POR MATHEUS LIANDA

Nascer e crescer em uma cidade pode nos impedir de enxergar partes importantes de nossa própria história. Você já teve a experiência de, ao viajar para um lugar diferente, pesquisar seus pontos turísticos, datas comemorativas e principais personalidades? E ao chegar ao destino, reparar em características arquitetônicas, detalhes paisagísticos, comportamento de pessoas, aromas, cores? É muito provável que sim.

Na Sociologia, isso é chamado de “olhar de estranhamento”. Ele é natural quando estamos diante de uma situação nova. Mas quantas vezes fez o mesmo em sua própria cidade, onde cresceu vendo sempre as mesmas estruturas, padrões e pessoas? Muitos passam toda a vida em um certo local e nunca descobrem suas curiosidades – tão ou mais fascinantes quanto as de outros municípios. Você vai conhecer a história de figuras fundamentais para o nascimento e desenvolvimento de algumas instituições de São João da Boa Vista, símbolos palpáveis dos projetos nelas desenvolvidos. A ideia não é disponibilizar um relato histórico integral de cada tópico, somente contar um pouco sobre as personalidades que os representam e, talvez, despertar nos sanjoanenses mais interesse por essa gente de convicção; gente inovadora, pioneira, gente que fez (e ainda faz) muita diferença.

Monsenhor João Ramalho

A imagem que ilustra essa matéria é uma representação artística, já que não há nenhuma pintura ou ilustração do monsenhor.

A fundação oficial de São João da Boa Vista aconteceu em 24 de junho de 1824, com a celebração da primeira missa. O cônego português João José Vieira Ramalho, que vivia em Mogi Mirim, é considerado o patrono da cidade. Foi ele o grande incentivador para que Antônio Machado doasse parte das terras de que havia se apossado nas margens do atual córrego São João, onde havia construído uma pequena capela para Santo Antônio. O cônego o convenceu a trocar o santo padroeiro para São João, o que posteriormente tornou o lugar conhecido como São João da Boa Vista, uma vez que a Serra da Mantiqueira, nesta região, era chamada de Serra da Boa Vista.

Ele foi o responsável por estabelecer o perfil econômico do povoado e propiciar aos moradores condições para se estabelecer com sucesso no local. Ao vir para o Brasil em 1800, se apaixonou pela futura cidade e enxergou todo o potencial da região: seu objetivo era irradiar o progresso por atividades agropecuárias, industriais e rurais, com monjolos, moinhos, engenhos de serra e de cana-de-açúcar. Em duas assembleias paroquiais (1824 e 1846), foi escolhido como administrador da então freguesia. Além de celebrar missas, batismos, cerimônias fúnebres e matrimônios em São João, mesmo sem ser vigário da cidade, o pioneiro também batalhava por suas opiniões políticas e participou ativamente da Revolução de 1842 (as “revoltas liberais”).

É também o fundador da Paróquia São João Batista (1838); em 1851, foi edificada a Igreja Matriz, de pau a pique e taipa, posteriormente reconstruída em tijolos em 1888. Durante a viagem para inaugurar o Ramal Férreo de Caldas, em 1886, o imperador Dom Pedro II e sua esposa, Dona Thereza Christina, fizeram uma grande doação para a continuidade das obras do novo templo.

Joaquim Lourenço de Oliveira

Vereador sanjoanense cuja lei de isenção de impostos incentivou a criação do Theatro Municipal. Segundo a determinação aprovada pela Câmara dos Vereadores em 15 de abril de 1912, quem construísse um teatro em São João, teria o benefício por 10 anos. O edifício não tem propriamente um fundador, visto que 113 acionistas da Sociedade Anônima Companhia Teatral Sanjoanense contribuíram para sua criação, presididos pelo Ten. Cel. Joaquim Cândido de Oliveira. O projeto foi feito pelo arquiteto italiano José Pucci e a obra fiscalizada e executada pelo construtor Antonio Lanzac.

Nicolau Rehder

Foto: Logradouros de São João da B. Vista/ Rodrigo Rossi Falconi

O alemão Nicolau Rehder foi o encarregado pela construção da Estação Ferroviária e do ramal de Caldas do Km 42 até o ponto final, em Poços de Caldas (MG), em 1883, sob supervisão do engenheiro Alexandre Brodowski – este ficaria famoso por conseguir resolver o problema da ascensão da via férrea na serra da cidade mineira. Nicolau era contrário às injustiças praticadas contra os negros na época; embora tenha utilizado mão de obra escrava por um tempo, libertou-os antes mesmo da assinatura da Lei Áurea, em 1888. Trouxe à região novas técnicas para substituir as paredes de taipa por tijolos e foi responsável pela edificação de importantes prédios, como o antigo Fórum e Cadeia (1887), hoje sede do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC); a antiga Igreja Matriz (1890); e sua própria residência (1890), atual sede da Diocese de São João da Boa Vista. Muitas de suas obras foram projetadas pelo alemão Carlos Martens.

Carolina Augusta dos Santos Malheiros Vasconcellos

No século XIX, os tratamentos médicos eram rudimentares. Em São João, doentes e feridos eram cuidados por pessoas não habilitadas ou médicos quase sem recursos. Com isso, alguns indivíduos começaram a elaborar um projeto para implantar um hospital que atendesse, com qualidade, sobretudo os menos afortunados gratuitamente: a Santa Casa de Misericórdia. O pontapé inicial foi dado por Carolina Augusta dos Santos Malheiros Vasconcellos, em fevereiro de 1891, com a doação de 30 contos de réis para a causa (o equivalente a quase 4 milhões de reais hoje em dia). Embora o valor não tenha sido suficiente para concluir a obra, foi o principal incentivador das futuras arrecadações. A “criadora” da Santa Casa faleceu no mesmo ano em que fez sua afortunada contribuição, então não pôde presenciar a inauguração do hospital em 1899.

Antônio Manuel “Machado” de Siqueira

Antônio Manuel de Siqueira (em alguns documentos grafado como “Antônio Manuel de Oliveira”) também é considerado um dos fundadores de São João da Boa Vista, ao lado de seus cunhados Francisco e Ignácio Cândido. A história é muitas vezes incerta, mas o que se sabe é que ele foi o primeiro doador de terras para a formação do patrimônio da freguesia de São João da Boa Vista. Eles chegaram à região por volta de 1821 – alguns dizem que às vésperas do Dia de São João –, vindos de Itajubá (MG), três anos antes da fundação oficial. Machado apossou-se de terras próximas ao atual córrego São João até a Cascata das Macaubeiras e a atual Av. Dona Gertrudes; e Francisco e Ignácio se apossaram de terras mais para os lados do Rio Claro. Antônio Machado construiu uma capelinha devotada a Santo Antônio, a quem pedira proteção para ganhar uma demanda jurídica na qual se envolvera; o cônego João Ramalho, que percorria com frequência a região por ser proprietário da Fazenda São João dos Pinheiros, convenceu-o a doar parte das terras para construir uma capela maior e formar patrimônio. A via onde o posseiro construiu sua humilde casinha foi posteriormente denominada Rua Antônio Machado em sua homenagem.

Foto: EMEB José Peres Castelhano

José Peres Castelhano

Natural de Santos – SP, morou em São João desde 1920, quando tinha 19 anos. Pioneiro da doutrina espírita na cidade, foi editor do jornal O Município e dedicou a vida a ajudar a população. Foi um dos fundadores da Sociedade de Estudos Espíritas João Batista e um dos responsáveis pela abertura do Albergue Noturno Bom Samaritano. Em sua homenagem, o prédio da Câmara Municipal, o plenário e uma escola municipal levam seu nome.


Evolução da cidade

Em 28 de fevereiro de 1838, o pequeno povoado foi elevado à freguesia e, em 24 de março de 1859, uma lei provincial a elevou a vila. Nos arquivos da Prefeitura, encontra-se a ata de sua instalação, em cerimônia realizada em 7 de setembro de 1859. Sem o incentivo e proteção do Monsenhor Ramalho, talvez o pequenino povoado nunca se desenvolvesse; o povo queria ser assistido pelo padre e sentia a necessidade de uma capelinha para a celebração da missa dominical e dos sacramentos.

O município compreendia a própria sede (São João) e as vilas de Aguaí (então Cascavel), Vargem Grande e Prata que, com o decorrer do tempo, conseguiram autonomia e emancipação. Surgiu então a primeira escola municipal, cujos primeiros professores registrados foram o casal Sandeville. Abaixo, a foto do prédio onde foi instalada a chamada Casa da Instrução, na Praça da Matriz.

O local também foi utilizado como Prefeitura e Escola Paroquial, mantida pelo Padre Josué de Mattos. Atualmente é o prédio do Banco do Brasil. Pouco a pouco, a cidade foi crescendo, espalhando-se pelos terrenos que margeiam o Jaguari, o Rio da Prata e o Córrego São João.

Foto: Logradouros de São João da B. Vista/ Rodrigo Rossi Falconi

Foto: Arquivo / Revista Atua

Octávio Bastos

Nascido em Recife (PE), Octávio da Silva Bastos formou-se em Direito e participou da Revolução de 1930. Tornou-se promotor e trabalhou em vários cargos do governo até se aposentar. Mudou-se para São João da Boa Vista por motivos de saúde e, em 1963, foi eleito prefeito. Em sua gestão, foi criado o Museu Histórico e Pedagógico Dr. Armando Salles de Oliveira. Foi sócio-fundador da Fundação Sanjoanense de Ensino, hoje Unifeob; um dos fundadores da Faculdade de Administração e Economia, hoje Unifae; fundou as faculdades de Direito, Filosofia e Ciências Contábeis e Administrativas; idealizou a Faculdade de Veterinária; e fundou, unido ao Prof. Milton Segurado, Dr. Octávio Pereira Leite e Francisco Roberto Almeida Júnior, a Academia de Letras de São João da Boa Vista (1971).

Foto: Antonio Carlos Lorette

Dito Pito

Dono de uma trajetória de luta contra o racismo, Benedito Antonio Lourenço recebeu o apelido pelo cachimbo que utilizou por boa parte da vida. Ao lado da esposa, Joana de Oliveira, participou ativamente do sistema social e religioso dominado pela elite sanjoanense. Exerceu os ofícios de carpinteiro, marceneiro, caçador, benzedor e o principal nome do movimento negro em São João por muitos anos. O filho de ex-escravizados fundou, ao lado de colegas, o Clube Henrique Dias (homenagem ao militar, filho de escravos africanos libertos, considerado um herói da Pátria), em 1936, organização que promovia bailes de carnaval e integrava afrodescendentes da cidade às atividades culturais, dominadas pelos brancos na época. Na prática, foi o antecessor do Espaço de Cultura Afro Brasileira Luiz Gama (antigo Clube Recreativo Luiz Gama), criado em 1940 pela comunidade negra. Além do protagonismo no clube, o carpinteiro tinha um envolvimento grande com a comunidade religiosa da Matriz, o que era algo inédito.

Foto: Casa da Criança

Ziza Andrade

Filha do Dr. Theophilo Ribeiro de Andrade, Olímpia de Oliveira Andrade era pianista, violinista e organista, bem como professora de música. Tocava na Igreja Matriz e participou de vários festivais beneficentes e comemorativos. Atuou ativamente na Revolução de 1932, na assistência aos combatentes, e foi diretora do Museu Histórico e Pedagógico Dr. Armando Salles de Oliveira, para o qual doou muitas peças. Além de vereadora, religiosa e ativista pelos direitos dos mais pobres, Ziza também era adepta dos esportes: ginástica sueca, natação, tênis e basquete, por exemplo. Regeu o Coral Santa Cecília por muitos anos e fundou ao lado de Antônia Ferreira de Andrade, a Casa da Criança (box abaixo), em 24 de maio de 1942, cujo prédio atual foi finalizado em 1947. A principal finalidade da organização é amparar crianças carentes enquanto as mães trabalham fora.


O café como locomotiva das benfeitorias

Em 1886, os trilhos da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro trouxeram um novo estímulo para o progresso, pois facilitavam o intercâmbio econômico e cultural com cidades mais desenvolvidas e com a capital da então Província de São Paulo. Isso gerou frutos: filhos dos cafeicultores começaram a ter acesso aos grandes centros, muitas vezes até estudavam no exterior.

Ao retornar, essa nova geração de ricos trouxe uma visão mais moderna ao município; entre outras coisas, promoveram a criação de benfeitorias para a população – como grande parte das personalidades aqui citadas. Embora fossem ações paliativas, por conta da profunda desigualdade social da época (que, em alguns casos, persiste até hoje), amenizaram a disparidade. Abaixo, o registro das obras de expansão da Casa da Criança em data ignorada. Ao lado, foto de Ziza Andrade, ao lado da placa em sua homenagem, também na Casa da Criança, em 1973.


Araci Braga Silveira

A autodidata Araci Braga Silveira foi a fundadora do primeiro jardim de infância da história da cidade, na década de 1920, no salão social do templo da Igreja Presbiteriana da Rua Benjamin Constant. Foi pioneira na metodologia para ensino de pré-alfabetização e sua didática foi incorporada ao conteúdo das cartilhas escolares. Sua casa era como uma pousada, pois sempre acolhia hóspedes que a procuravam pelos gestos de amizade e conforto espiritual oferecidos por ela e seu marido, o advogado e poeta Jordano Paulo da Silveira. Em mesinhas para quatro crianças, seus alunos aprendiam desenho, pintura, artes, música, canto, dramatização, educação física, além de atividades extracurriculares, como piquenique, para aprenderem a socializar e receber convidados. Ademais, incentivava a higiene, as boas maneiras, o amor e respeito aos animais, à natureza e à religião cristã.

Foto: Arquivo Ana Lucia Finazzi

Chafica Antakly e Lúcia de Andrade

Conhecidas por sua caridade, as senhoras Chafica Antakly (foto a esquerda) e Lúcia Lambert de Andrade (foto a direita) fundaram, em 3 de dezembro de 1956, o Serviço de Assistência Social (SAS). O intuito era solucionar com urgência o atendimento e amparo ao segmento mais pobre e carente da sociedade. Após fazer um levantamento das prioridades e definir como seria a atuação, foi criada a associação beneficente. Chafica fazia parte do Clube da Amizade, em que esposas de rotarianos se reuniam para fazer enxovais para crianças necessitadas. Formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), Lúcia veio a São João para lecionar e se apaixonou pela cidade – como diz o ditado, “bebeu da água do Jaguari” e por aqui ficou. Sempre trabalhou pelos mais necessitados, inclusive em diversos programas sociais da igreja católica. As fotos são da Creche Chafica Antakly.

Foto: Logradouros de São João da B. Vista/ Rodrigo Rossi Falconi

Henrique Cabral de Vasconcellos

Foi um dos homens mais atuantes de sua época e colaborou sobremaneira para o desenvolvimento da cidade. Após passagens como prefeito e vereador, foi reconhecido, entre diversos feitos, pela melhoria das finanças públicas e nas redes de água e esgoto. Entre suas principais obras, destacam-se a conclusão do edifício do Paço Municipal, em 24 de junho de 1942, sede administrativa da cidade; a inauguração da Casa da Criança; contribuições para a construção de dois seminários e para o Colégio Santo André; a instalação do Recinto de Exposições José Ruy de Lima Azevedo; reforma do jardim da Praça da Matriz; e, como abordado na matéria de capa da última edição da Revista Atua, o loteamento e fundação da Vila Tenente Vasconcellos, embrião do que conhecemos hoje como DER.

Foto: Reprodução / Museu Histórico e Pedagógico Dr. Armando Salles de Oliveira

Tita de Oliveira

Dona Maria Ignez da Silva Oliveira, filha de Joaquim José de Oliveira e Anna Gabriella da Silva Oliveira, adorava viajar. Conheceu diversas partes do Brasil e do mundo e sempre trazia objetos interessantes, expostos em vitrines em sua casa, onde queria montar um museu. De alma extremamente piedosa, humilde e caridosa, sempre tratou com o máximo respeito todas as pessoas e animais. Seguia à risca os preceitos da religião católica, prestava auxílio a diversas entidades filantrópicas e até mesmo bancava estudos de jovens sem condições financeiras. Doou à Prefeitura sua casa e todas suas peças para a criação do Museu Histórico e Pedagógico Dr. Armando Salles de Oliveira, estadista que admirava profundamente. Também doou uma fazenda à Diocese de São João, com a condição de nela ser mantido um orfanato e uma escola rural.

Foto: José Marcondes

João Batista Merlin

O engenheiro João Merlin foi uma referência na atividade de restauração. Entre outros, participou do restauro do Palácio do Catete, Teatro Municipal, Biblioteca Nacional, Palácio da Cultura e Museu de Belas Artes, todos no Rio de Janeiro. Em Brasília, alguns de seus trabalhos foram uma capela no Lago Paranoá, o Kartódromo de Guará, Palácio do Jaburu – residência oficial da Presidência da República – e reformas no Teatro Nacional, Granja do Torto e Palácio da Alvorada. Quando voltou a São João, cidade onde nasceu e viveu por toda a infância, iniciou uma campanha para restaurar o Theatro Municipal, embora não tenha participado do projeto. Ao vistoriar a Igreja Catedral, da qual também elaborou o projeto de restauro, encontrou diversas relíquias religiosas em desuso. Para preservá-las, teve a ideia de criar o Museu de Arte Sacra (1987), iniciativa acolhida imediatamente não somente por membros da igreja, mas também pela sociedade sanjoanense.

Matildes Salomão

Matildes Rezende Lopes Salomão foi a escolhida para ilustrar a capa desta edição da Revista Atua. Na infância praticamente não teve a oportunidade de estudar; seu pai entendia que não era necessário instruir mulheres. Mesmo assim, foi autodidata, passou a ler muito e desenvolver um grande talento para pesquisa. Só teve oportunidade de concluir os estudos formais na década de 1970, se formando, em 1981, como bacharel em Ciências Jurídicas, aos 75 anos.

Foto: Arquivo familiar

Além de seu admirável feito pessoal, Matildes coordenou a comissão responsável por criar e instalar o Museu Histórico e Pedagógico Dr. Armando Salles de Oliveira e o Arquivo Municipal – este batizado em sua homenagem em 2003. Para o arquivo, doou raros documentos; um deles conta a fundação da primeira Câmara Municipal de São João, quando seus integrantes eram chamados de “homens bons”, e não “vereadores”. Reuniu muitos documentos de diversas localidades, e essa pesquisa foi essencial para a publicação do livro História de São João da Boa Vista, em 1976, por Maria Leonor Alvarez Silva. Matildes buscou informações como certidões, inventários e testamentos de arquivos das arquidioceses de São Paulo, São João Del Rey, Campinas, Mariana, São João, Pouso Alegre, paróquias de Caldas, Ouro Fino e Lavras.

Vasculhou e salvou arquivos abandonados da Câmara de São João da Boa Vista, o que foi fundamental para a preservação da história de nossa cidade. Hoje, tudo está disponível no Arquivo Municipal. Também frequentou arquivos do Estado de São Paulo, onde fez amigos e correspondentes com quem trocava novas informações e descobertas.

Sem o trabalho desta predestinada mulher, a história de muitas das figuras que você acabou de ler não existiria; tudo teria se perdido no tempo. Graças a Matildes e outra dezena de historiadores locais, podemos contar um pouco da história de São João da Boa Vista. Ela faleceu em 2007, aos 90 anos, mas deixou um enorme legado preservado principalmente pelo interesse especial por História – além de incentivar toda uma geração de historiadores e entusiastas. Matildes é mãe da médica sanitarista Marta Salomão, ex-diretora do Instituto Adolfo Lutz, responsável por coordenar a resposta brasileira à epidemia da gripe H1N1, em 2009.


O Arquivo Histórico e o Museu

e você se interessou por essas figuras históricas, nossa sugestão é que você reserve um tempo para visitar o Museu Histórico e Pedagógico Dr. Armando Salles de Oliveira e o Arquivo Municipal, que funciona no prédio do Centro Cultural Pagu (antiga biblioteca).

MUSEU HISTÓRICO

O museu foi inaugurado em 24 de junho de 1970. Seu acervo foi ampliado a partir de campanhas em escolas, incorporação do patrimônio municipal e doações esparsas de particulares e de instituições locais. Hoje, são mais de 10 mil peças. Ele está aberto de terça a sexta-feira, das 9h às 16h. O edifício está localizado na Praça Governador Armando Salles, 122 – Centro. É possível agendar visitas, pelo telefone (19) 3631-0314. O núcleo original é composto por peças colecionadas por Maria Inês da Silva Oliveira, a Dona Tita, um acervo eclético baseado em peças históricas de sua família, presentes de amigos e peças adquiridas em suas viagens pelo Brasil, Europa e Ásia na primeira metade do século XX.

ARQUIVO HISTÓRICO

Espaço público frequentado há 30 anos por leitores, estudantes e pesquisadores, o Centro Cultural Pagu passou por uma grande reforma e agora abriga o Arquivo Histórico Municipal. Lá podem ser consultados documentos em bom estado de conservação, como as Atas da Câmara de São João da Boa Vista desde a metade do século XIX, por volta de 1865. Embora esteja abrigado em um novo e amplo espaço, é necessário que a documentação passe por completa indexação, microfilmagem e digitalização; isso permitirá mais possibilidade de acesso à informação por parte da população, além de garantir que todas essas preciosidades não sucumbam ao tempo.
O poder público e a iniciativa privada devem se unir para assegurar a ampla consulta e conhecimento desses documentos. Além do material impresso, há também fitas cassete, discos de vinil da antiga Rádio Difusora, VHS e DVDs que, em breve, integrarão um novo acervo próprio e disponível ao público. O Arquivo Público Municipal está situado na Rua Benedito Araújo, 44 – Centro, aberto de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h. É possível agendar visitas pelo telefone (19) 3631-0316.

A Revista Atua agradece publicamente a todos os funcionários do Museu Histórico, Arquivo Municipal e ao historiador Jaime Splettstoser, por todo apoio e auxílio para a confecção dessa matéria.