Vinícola Guaspari cultiva uvas em meio ao rico solo gerado pelo vulcão de Poços de Caldas (MG) (Foto: Leo Beraldo / Cromalux).
POR MARINA BORGES

Produzir vinho numa região tradicionalmente cafeeira foi um desafio que a família Guaspari enfrentou. Graças à aposta, a vinícola provou que a cidade de Espírito Santo do Pinhal não tem potencial apenas para a monocultura do café. Os Guaspari sempre foram muito ligados ao campo, mas foi somente após a compra de uma fazenda na região pinhalense que eles tiveram a oportunidade de procurar outros produtos. E conseguiram. Explorando outras vocações para as terras, a família apostou numa nova cultura: a produção de vinho.

A vinícola surgiu a partir da convergência de uma série de fatores: a paixão pelo vinho e por tudo o que ele representa (gastronomia, natureza, arte, famílias, amigos e gerações); a percepção de que a cidade de Pinhal reúne características muito favoráveis à vinicultura; a vontade de colaborar com o desenvolvimento da região e a visão empreendedora de perceber potencial para uma nova cultura em uma área tradicionalmente cafeeira. Estes foram alguns dos aspectos que fizeram a Vinícola Guaspari sair do papel.

POR QUE PINHAL?

O conhecimento a respeito de mineração permitiu que a família observasse as características geológicas da região, criadas pelo complexo alcalino de Poços de Caldas. As altitudes de 800 a 1.300 metros e as noites frescas, a amplitude térmica e a ótima insolação – semelhantes à das grandes regiões produtoras mundiais – os motivaram a aventar a possibilidade do cultivo de parreiras.

De acordo com um estudo botânico francês, as regiões que citavam os fatores diferenciados de terras em altitudes de 700 a 1.300 metros obtinham as condições climáticas ideais para a cultura do vinho. Somando esse fator a um solo seco, com ótima drenagem e granítico em grande maioria, típico de alguns dos grandes terroirs do mundo, foi possível concluir que a criação de uma vinícola em Pinhal era uma aposta certeira.

O passeio pela vinícola não termina no campo: é também possível conhecer a área de produção, engarrafamento, cave de barricas e de garrafas (Foto: Leo Beraldo / Cromalux).

A VINÍCOLA

Em 2006 foram plantadas as primeiras videiras, compostas por mudas de diversas variedades francesas, escolhidas em virtude das características do terroir da região. Porém, somente dois anos depois o primeiro vinho foi produzido. Em 2008, a primeira safra da Guaspari contabilizou 30 garrafas da bebida.

A área de plantio das uvas sofreu uma ampliação gradual desde o início do projeto e, atualmente, possui 50 hectares de vinhedos próprios, nos quais ocorre toda a produção de vinho. Uma das grandes inovações do projeto Guaspari é a transferência da safra para o inverno, quando o clima é o ideal, semelhante ao das grandes regiões produtoras de vinho do mundo.

A colheita no inverno é possível devido ao manejo de dupla poda: há uma poda de formação (imediatamente após a colheita) e, depois, uma poda de produção. A colheita, que ocorre nos meses de julho e agosto, marca a época mais intensa do ano, na qual inicia-se um novo ciclo na vinícola e o nascimento de uma nova safra. Segundo a equipe da Vinícola Guaspari, o maior desafio para produzir vinho no Brasil é o fato de ter que lidar com paradigmas estabelecidos há muito tempo com relação à qualidade dos vinhos nacionais, ainda vista com receio por parte dos consumidores. Para tentar barrar o preconceito e valorizar a cultura brasileira, o projeto conta com especialistas reconhecidos no Brasil e no exterior. Atualmente, 54 profissionais capacitados no mercado estão envolvidos na equipe da Guaspari, sendo quatro funcionários no enoturismo, oito na vinícola, 30 no campo e 12 no setor de comércio, marketing e suporte.

(Foto: Leo Beraldo / Cromalux)

ENOTURISMO

O enoturismo é um segmento da atividade turística que se baseia na viagem motivada pela apreciação do sabor e aroma dos vinhos e das tradições dos locais em que a bebida é produzida. O horário de visitação da Vinícola Guaspari funciona aos sábados e domingos, às 9h30 e 14h30, e às sextas-feiras, de 15 em 15 dias. As visitas acontecem em grupos de no máximo 22 pessoas e os visitantes são acompanhados por um guia da Guaspari em um passeio de aproximadamente duas horas. No início do trajeto, feito de caminhão, são apresentados os vinhedos da Vista da Vinícola, que proporcionam uma visão geral dos terroirs e o local onde as uvas estão plantadas.

Durante o passeio até as videiras, características singulares da vinícola podem ser observadas, entre elas o solo granítico, semelhante a um dos terroirs mais emblemáticos do mundo, localizado na França. Outra inovação apresentada aos visitantes é o processo da dupla poda, que resulta na transferência da safra para o inverno, período em que há a alternância entre os dias ensolarados e as noites mais frias e marcado por uma amplitude térmica que permite o perfeito amadurecimento das uvas. E o passeio não termina no campo, o grupo visita também a vinícola, passando pela área de produção, engarrafamento, cave de barricas e de garrafas. “Nessa etapa do processo, eles irão conhecer o manejo meticuloso que damos às uvas, a passagem do vinho pelos tanques de inox, seguindo pela sala de barricas de carvalho francês, até chegar à cave de garrafas, onde alguns rótulos que ainda não foram lançados seguem seu processo de evolução envelhecendo na cave de garrafas”, explica a diretora executiva da Guaspari, Fabrizia Zucherato.

A visita se encerra com uma degustação, onde são apresentados quatro rótulos e o agendamento é feito pelo site www.vinicolaguaspari.com.br na sessão “Enoturismo” ou por meio do telefone (19) 3661-9190.