POR NICKOLAS SANTOS

O antigomobilismo é um termo que se refere à prática de cuidar, restaurar e preservar veículos que marcaram época. É um hobby adotado por muitas pessoas que chegam a formar grupos, clubes e organizam eventos para exibir os automóveis, trocar experiências e aumentar a coleção.

Carros antigos e clássicos têm o poder único de transcender o tempo, transportando-nos para épocas passadas e evocando uma sensação de nostalgia e admiração. Cada veículo antigo conta uma história, refletindo a arte, a engenharia e o estilo de sua era. São testemunhos de uma época em que a condução era mais do que uma mera atividade funcional; era uma experiência visceral e emocional. A beleza dos carros clássicos reside em sua estética atemporal. Linhas elegantes, curvas suaves e detalhes meticulosos destacam-se como testamentos do cuidado artesanal que costumava ser investido na fabricação de automóveis. Enquanto os modelos modernos muitas vezes se concentram em tecnologia de ponta e eficiência, os carros clássicos celebram a simplicidade e a elegância de uma época passada.

Além do design, os carros antigos também são apreciados pela sua singularidade e exclusividade. Muitos modelos clássicos são raros, alguns até mesmo únicos, adicionando um charme especial à sua aura. A comunidade de entusiastas de carros clássicos é unida pelo amor compartilhado por essas máquinas atemporais. Eventos de exposição e ralis proporcionam oportunidades para os proprietários e apreciadores se reunirem, compartilharem histórias e celebrarem a paixão por essas obras de arte sobre rodas.
Muitos entusiastas dedicam horas intermináveis para devolver a antigos esplendores a esses veículos, preservando a autenticidade e a integridade de cada detalhe. Essa dedicação não é apenas uma expressão de amor pelos carros, mas também um compromisso com a preservação da história automotiva.

Os aficionados por carros antigos são atraídos pela elegância, o artesanato meticuloso e a engenharia atemporal desses automóveis, que muitas vezes remontam às décadas de 1920, 1930, 1940, 1950 e 1960. A restauração e manutenção de carros clássicos tornaram-se uma forma de arte para muitos entusiastas. Eles investem horas incalculáveis e recursos significativos para trazer de volta à vida carros que podem estar perto do esquecimento. Além disso, os eventos e encontros de carros clássicos proporcionam uma comunidade apaixonada para aqueles que compartilham essa paixão. Esses encontros oferecem a oportunidade de exibir suas preciosidades, trocar histórias e conhecimentos, e, acima de tudo, celebrar o legado da indústria automobilística. A paixão por carros antigos e clássicos transcende as barreiras culturais e gerações, conectando pessoas que compartilham o amor pela beleza e pela nostalgia que esses veículos representam.

Cada modelo tinha seu próprio caráter e personalidade distintos, o que contrasta com os veículos modernos, que muitas vezes compartilham designs e características semelhantes. A diversidade de carros clássicos, desde os elegantes conversíveis dos anos 50 até os robustos muscle cars dos anos 60, oferece uma ampla gama de opções para os entusiastas explorarem. Para muitos, a paixão por carros antigos também está ligada a histórias pessoais e memórias. Muitas pessoas têm lembranças de passeios em carros clássicos com seus pais ou avós, criando um vínculo emocional com esses veículos. Além disso, os carros antigos frequentemente desencadeiam nostalgia por uma época que muitos consideram “a era de ouro” da indústria automobilística, quando o design e a engenharia estavam no auge.

A valorização e a preservação de carros clássicos também têm implicações econômicas, já que muitos desses veículos se tornaram investimentos sólidos. Eles não apenas mantêm seu valor, mas muitas vezes se valorizam ao longo do tempo, tornando-se ativos valiosos para colecionadores e investidores. É uma celebração da história automobilística, da criatividade de gerações passadas e das emoções que esses carros evocam. Através da restauração, exibição e compartilhamento de conhecimentos, os entusiastas garantem que esses tesouros sobre rodas perdurem para as futuras gerações, mantendo viva a chama da paixão pelos carros clássicos. A atividade tem bastante adepto no Brasil e em São João da Boa Vista e região não é diferente.
A gente conta, agora, um pouco da história de dois apaixonados pelo antigomobilismo.

XODÓ DA FAMÍLIA
Marco Uliana, junto com a esposa e a filha, exibem com orgulho o caminhão Ford, modelo 1923, que também é uma das atrações do Ferrugem na Veia.

FERRUGEM NA VEIA

Criado em 13 de junho de 2008 em São João da Boa Vista, o Clube Ferrugem na Veia conta com 160 associados. Tudo começou com um grupo de amigos que gostava de veículos antigos e resolveu levar a paixão a outro nível: eles fundaram o clube, criaram um estatuto e têm CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) registrado. Além disso, o clube é afiliado à Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), órgão referência no antigomobilismo no Brasil, que, por sua vez, é afiliado à Federação Internacional de Veículos Antigos (FIVA), entidade máxima de regulação desses automóveis. O clube Ferrugem na Veia também tem autorização do DENATRAN para emitir o Certificado de Veículo de Coleção (CVCOL). Com esse certificado, o automóvel recebe uma placa de identificação, preta. “O veículo passa por uma vistoria, por avaliadores do clube e se ele atingir uma pontuação determinada tem autorização de colocar a placa preta. Aí no documento desse veículo, quando ele faz a transferência, sai como veículo de colecionador”, explicou Marco Uliana, um dos fundadores e atual presidente do clube Ferrugem na Veia. Atualmente, o clube tem, aproximadamente, um total de 430 veículos com certificado de colecionador.

EVENTOS

Os membros do clube têm o hábito de fazer um encontro de veículos no último domingo de cada mês. Nem sempre é possível todos comparecerem, mas os que moram em São João, costumam se encontrar. Além disso, o Ferrugem na Veia promove anualmente um encontro de maior proporção: é a Exposição de Antigomobilismo. As últimas duas edições foram realizadas na Sociedade Esportiva Sanjoanense.

“Aí esse encontro a gente chama de exposição, porque quando a gente coloca esse nome, é reservada uma ala para carros convidados. Então a gente convida os amigos da região que têm carro especial, carro raro e eles expõem esses veículos lá. E funciona como encontro, também, porque quem quiser chegar, estacionar o carro e bater papo, é muito bem-vindo”, disse Marco.

A última edição da Exposição de Antigomobilismo, realizada nos dias 30/09 e 01/10, contou com a participação de 300 veículos disponíveis para apreciação dos visitantes. No evento ainda contou com shows musicais, praça de alimentação e plantio de árvores. Esse plantio foi uma parceria com a ONG Planeta Plantar, de proteção e cuidado com o meio ambiente. “A gente tem a ideia de plantar uma árvore para cada veículo que estava exposto. Então, simbolicamente no domingo [01/10], nós já plantamos meia dúzia de mudas de árvore lá na Sociedade Esportiva Sanjoanense durante o próximo ano a gente vai plantando árvore onde precisar, com orientação do Planeta Plantar, porque a gente não pode ir plantando árvore em qualquer lugar (…) Então a ideia é essa meta de atingir 300 árvores plantadas”, contou Marco. O Ferrugem na Veia também realiza passeios durante o ano. Alguns membros se juntam e fazem a Caravana do Padre Donizetti, indo até a cidade de Tambaú. Em outras ocasiões, quando há evento em Holambra, o grupo também se dirige até lá.

PAIXÃO DE INFÂNCIA

Marco Uliana relata que, desde a adolescência, é apaixonado por carros antigos. Com 15 anos, comprou seu primeiro jipe, que nem funcionava muito bem. Depois disso, foi trocando e comprando outros veículos. “Tive vários Dodge Dart, Chevrolet 51, caminhonete, tive muita coisa. E hoje eu tenho um caminhãozinho 1923 (…) Ficou pronto esses dias, estava em reforma e já foi exposto lá na Esportiva também”, falou.

Esse caminhãozinho citado por Marco é da Chevrolet e é uma herança de família. O veículo pertencia ao bisavô dele e ficou cerca de 40 anos abandonado, até ser recuperado. “Meu pai resgatou esse carro [caminhãozinho]. Eu fiquei com ele a partir de 1999, comecei a mexer e neste ano que acabou de pintar e agora está concluído. Então é um veículo que era da família, que ficou todo esse tempo parado e a gente resgatou, trouxe de volta à vida”, relatou.

GARAGEM CHEIA
Ailtinho Ambrósio mostra, com muito orgulho, os mais de 45 carros e 90 motos que estão na garagem. Entre os “favoristos” estão o Volkswagen Fusca modelo 1959 e o 1986, respectivamente, o primeiro e o último fabricado no Brasil.

AILTINHO AMBRÓSIO

Ailtinho Ambrósio é outro entusiasta do antigomobilismo em São João da Boa Vista. Ele é proprietário de um museu de veículos antigos, localizado no bairro Santo André. São ao todo 45 carros e 91 motos A paixão começou por acaso e quando se deu conta, Ailtinho já tinha criado uma coleção. O primeiro veículo antigo que ele teve foi um MPLafer 1979 e ele prefere não escolher algum preferido. “Não tenho nenhum preferido, todos fazem parte de uma coleção de veículos com motores refrigerados a ar. Os carros são lavados uma vez ao ano e mantidos limpos e desativados, isto é, sem gasolina, sem bateria”, explicou Ailtinho Ambrósio.

A seleção dos veículos que farão parte da coleção é feita a partir de indicações de conhecidos ou por meio de contato no Instagram. E a ideia é sempre manter a coleção em movimento. “A meta é manter e vender alguns modelos excedentes para que possam habitar garagens por esse Brasil afora”, revelou.

ATRAÇÃO NO ANIVERSÁRIO DA CIDADE

O museu de carros antigos de Ailtinho Ambrósio fez parte da programação de comemorações do aniversário de São João da Boa Vista em 2019 e 2021. Em um dia específico, o museu abre as portas para visitação da população que pode apreciar a coleção diversificada. “Acho importante ter esse museu onde a população pode ter uma ideia cultural dos carros do passado”, analisou. “[O museu] significa parte da história dos carros dos anos 60, 70, 80 e 90. Fizeram parte da minha vida”, finalizou.

ANTIGOMOBILISMO NO BRASIL

O Brasil possui 1.200.000 proprietários e 3.200.000 veículos antigos (3% da frota nacional). Ou seja: a média é de 2,6 veículos antigos por antigomobilista, e 77% destes veículos estão devidamente legalizados e aptos a circular.

De acordo com dados da FBVA, 88% dos antigomobilistas frequentam eventos de carros antigos e os modelos das marcas Volkswagem e Chevrolet representam juntos 40% do total de carros antigos no país. De acordo com os dados da pesquisa, o mercado antigomobilista brasileiro movimenta anualmente R$ 32,6 bilhões, com gastos que incluem a restauração e manutenção de veículos antigos, a participação em eventos, viagens… e claro, a compra de veículos.