POR LUCIEL HENRIQUE DE OLIVEIRA
Para que a sociedade 5.0 possa provocar mudanças concretas na nossa qualidade de vida, o que falta em primeiro lugar é educação, cidadania, formação política e democrática. Precisamos organizar melhor a sociedade em associações, grupos e conselhos para defender nossos interesses. Precisamos aliar o desenvolvimento tecnológico à tecnologia social (TS), que é toda metodologia, técnica, processo, produto ou serviço criado para solucionar algum tipo de problema social, de forma simples, com baixo custo, fácil aplicabilidade, replicáveis e desenvolvidas na interação com a comunidade e que devem representar efetivas soluções de transformação social.
O conceito de Tecnologia Social apresenta uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando uma abordagem construtivista na participação coletiva do processo de organização, desenvolvimento e implementação, aliando saber popular, organização social e conhecimento técnico-científico. Tem como base a disseminação de soluções para problemas voltados a demandas de renda, trabalho, educação, conhecimento, cultura, alimentação, saúde, habitação, recursos hídricos, saneamento básico, energia, ambiente, igualdade de raça e gênero, dentre outras, importando essencialmente que sejam efetivas e reaplicáveis e promovam a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida das populações em situação de vulnerabilidade social.
O conceito de Tecnologia Social estabelece quatro dimensões:
- Conhecimento, ciência, tecnologia: tem como ponto de partida os problemas sociais; é feita com organização e sistematização e introduz ou gera inovação nas comunidades.
- Participação, cidadania e democracia: enfatiza a cidadania e a participação democrática; adota a metodologia participativa nos processos de trabalho e impulsiona sua disseminação e reaplicação.
- Educação: realiza um processo pedagógico por inteiro; se desenvolve num diálogo entre saberes populares e científicos e é apropriada pelas comunidades, que ganham autonomia.
- Relevância social: é eficaz na solução de problemas sociais; tem sustentabilidade ambiental e provoca a transformação social.
Até 2015, as tecnologias sociais contribuíram, de forma participativa e democrática, com os Objetivos do Milênio (ODM) da Organização das Nações Unidas (ONU). Depois, com Agenda 2030 da ONU e seus 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) as tecnologias sociais são vistas como importantes instrumentos para a construção de um mundo mais justo, resiliente e sustentável. São exemplos de sucesso de tecnologias sociais: o “Programa Um Milhão de Cisternas” e o “Cliquealimentos”, programa de doação de alimentos pela internet.
O “Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC)”, desde sua criação em 2003, leva benefícios para a população do semiárido brasileiro, tendo sido construídas mais de 630 mil cisternas de 16 mil litros, de placas pré-moldadas, beneficiando cerca de 3 milhões de pessoas, em uma região castigada pela seca, em com o subsolo pobre em água. É uma iniciativa promovida pela ASA Articulação do Semiárido (www.asabrasil.org.br), que reúne mais de três mil organizações da sociedade civil de diversas naturezas – sindicatos rurais, associações de agricultores e agricultoras, cooperativas, ONG´s, Oscips, e conta com a participação e colaboração dos moradores de cada um dos municípios envolvidos no programa. Este programa possibilitou avanços não só para as famílias, mas para as comunidades rurais como um todo, como o aumento da frequência escolar, a diminuição da incidência de doenças em virtude do consumo de água contaminada e a diminuição da sobrecarga de trabalho das mulheres.
O programa de doação de alimentos pela internet foi uma iniciativa do Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul, apoiada pela Fundação Banco do Brasil. Tem o objetivo combater a fome no Rio Grande do Sul e no Brasil, aproximando empresas investidoras e internautas, constituindo-se em uma das mais importantes fontes de captação de doações dos Bancos de Alimentos. De um lado, o internauta acessa o site cliquealimentos.com.br e concretiza a doação de 1 kg de alimento com apenas um clique, gratuitamente; de outro, uma empresa parceira patrocina a doação. Em 10 anos, a tecnologia doou 7.000.000 Kg para mais de 900 entidades de assistência social.
No site www.cliquealimentos.com.br, qualquer pessoa pode doar alimentos ao Banco de Alimentos, sem gastar nada. Após acessar o site, o internauta clica no prato com a inscrição “clique e doe”, escolhe uma cidade para ser beneficiada e uma empresa para doar, destinando assim 1 kg de alimento para o Banco de Alimentos. Uma empresa patrocina a doação e quem clica não gasta nada.
A pandemia escancarou as muitas fraquezas e vulnerabilidades de nossa forma de viver em sociedade. Nosso maior desafio hoje é construir, a partir de nossos limites pessoais, um limite que tenha uma validade coletiva, institucional. O que falta em primeiro lugar é educação, cidadania, formação política e democrática. Precisamos organizar melhor a sociedade em associações, grupos e conselhos para defender seus interesses, a partir daí, usar a criatividade aliada à tecnologia social e à sociedade 5.0.
Os conselhos Municipais, Estaduais e Federais são mediadores entre população e o Governo, com intuito de formular políticas públicas, que irão atender necessidades sociais. São instrumento da democracia participativa, pois deslocam o poder de formular as políticas públicas. Um dos papéis dos conselhos é o de trazer para o Governo, de forma regulada, problemas latentes na sociedade, e buscar soluções conjuntas.