POR BRUNO MANSON
A rotina nas lavouras, as paisagens naturais, os prédios históricos e uma variedade de animais silvestres da região são alguns dos exemplos eternizados por meio das lentes do lavrador Luís Henrique Leite. Com 49 anos, ele concilia seu hobby pela fotografia com o trabalho no campo, em Vargem Grande do Sul (SP).
Entre uma pausa e outra para o descanso, o trabalhador rural captura imagens surpreendentes e eterniza momentos do dia a dia na roça. Tamanho talento e percepção fotográfica tem chamado atenção nas redes sociais e até mesmo já foi tema de reportagem do programa Terra da Gente, produzido pela EPTV, afiliada da Rede Globo.
Natural de São Paulo (SP), Luís cresceu no Sul de Minas Gerais, morando durante toda sua infância e juventude em diversas fazendas, o que fomentou sua paixão pela natureza e a vida no campo. Com o passar dos anos, veio para Tapiratiba (SP) e, posteriormente, mudou-se para Vargem Grande do Sul, onde vive com sua família até hoje.

OLHAR FOTOGRÁFICO
Ao longo da vida, Luís sempre trabalhou na lavoura. Para se ter ideia, com apenas sete anos de idade já ajudava os pais na roça. Nesta época, dividia o tempo com os estudos e foi aí que descobriu uma nova paixão: a leitura. “Sempre gostei muito de ler. Sempre fui ligado em livros, histórias em quadrinhos, História do Brasil e em geral. Uma das matérias preferidas minhas na escola era História”, recordou.
E era no caminho do colégio que, mesmo sem perceber, começou a desenvolver sua percepção para a fotografia. “Quando voltava da escola, eu ficava olhando os casarões, as igrejas antigas, as paisagens, a natureza”, contou o trabalhador rural. Neste período, ele chegou a completar o Ensino Fundamental e parou. O lavrador somente retomou os estudos depois de casado, quando concluiu o Ensino Médio.
PELAS REDES SOCIAIS
Luís começou a fotografar há sete anos, quando estava a trabalho em Sacramento (MG). Assim que entrou nas redes sociais, ele começou a se maravilhar e a compartilhar publicações de outras pessoas. Ao adquirir um celular, o lavrador começou a fazer algumas fotos e a postar em seu perfil. “Ficava muito a trabalho lá e, por ser uma cidade histórica, ficava pelas ruas fazendo fotos com o celular”, comentou. Tempos depois, o trabalhador rural adquiriu uma câmera fotográfica usada e foi aprimorando seu talento.
“Fotografia a gente aprende todo o dia. Você vai aprimorando todo o dia”, observou.
Aos poucos, suas fotos começaram a ganhar repercussão nas redes sociais e atraindo seguidores. Para se ter ideia, uma internauta de Jaú (SP), ao tomar conhecimento do trabalho do lavrador, lhe presenteou com uma câmera mais moderna. “Ela ficou sabendo que eu queria comprar uma câmera, mas não poderia pagar muito caro, pois estava desempregado”, lembrou. Atualmente Luís tem um acervo com mais de 20 mil fotos, tendo a natureza e os animais como sua principal inspiração. Mamíferos, répteis e anfíbios estão entre alguns dos exemplares registrados por suas lentes. No entanto, o ele não esconde sua admiração pelos pássaros. Até o momento, o lavrador já fotografou cerca de 250 espécies de aves da fauna regional.
O trabalhador rural conta que a admiração surgiu logo em sua minha primeira passarinhada – um passeio realizado em grupo, com o intuito de fotografar aves. “Fotografei com os companheiros um picapauzinho-anão. É um bicho comum, mas aquilo para mim foi um verdadeiro troféu, pois foi o primeiro pássaro que fotografei em uma passarinhada oficial”, disse emocionado.
RARIDADE
Em meio às aventuras em busca do clique perfeito, Luís destaca a foto que tirou de um pato-mergulhão na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Foram dois anos tentando obter imagens da ave, que está ameaçada de extinção. Em 2018, ele e seus colegas permaneceram por três dias na região, mas não obtiveram êxito. Já em julho do ano passado, o grupo retornou ao local e o lavrador conseguiu fazer o registro fotográfico do ‘embaixador das águas brasileiras’. “Fotografar um pato-mergulhão é como ganhar um troféu, pois o bicho é raro e se encontra ameaçado de extinção”, declarou.
MOMENTO MARCANTE

Outro momento especial que recorda com emoção é quando foi fotografar um canário, isso enquanto ainda morava em Sacramento. O pássaro havia pousado no retrovisor de sua moto e ele se posicionava para fazer o registro, de modo que aparecesse refletida no espelho. Enquanto mirava o foco, a ave lhe encarou firmemente, o que lhe marcou profundamente. “Essa foto tem um significado muito grande para mim, pois simboliza um retorno. Um agradecimento do bicho que está sendo fotografado. Isso é muito legal”, explicou.
REGISTRANDO A HISTÓRIA
Além da natureza, Luís também gosta de fotografar casarões, igrejas e monumentos ligados à História. Entre seu acervo está a antiga estação de trens de Jaguara, inaugurada em 1888, em Sacramento. Construído em estilo inglês, o local já foi considerado símbolo de prosperidade econômica e hoje se encontra totalmente abandonado. “Fotografia é uma criação. É um filho. Cada foto feita tem uma história, um fundamento, o porquê você fez. Ela te traz uma magia”, destacou o lavrador. “A gente que fotografa, passa a ver a beleza em tudo. Eu costumo falar que tudo dá uma fotografia. Uma nuvem dá uma fotografia, desde que você mescle a imagem com uma árvore, uma pedra, com um mourão de cerca ou uma moita de capim para dar a silhueta, por exemplo”, afirmou.
UM DOM
Companheiro fiel dos passeios fotográficos, seu neto Neto Miguel Leite Dias, de 11 anos, também acaba se tornando ‘modelo’, ainda mais durante o pôr do sol. E o resultado encanta e surpreende pela simplicidade e beleza das imagens obtidas. “Nunca fiz nenhum curso. Costumo dizer que a fotografia para mim foi um dom de Deus. É Deus que direciona meu olhar sempre que eu vou fotografar”, revelou. Como também fotografa cultos religiosos e missas, Luís confessa que sempre pede a bênção divina. “Peço orientação para Deus, que direcione meu olhar. E Ele tem me abençoado muito”, finalizou.