POR FRANCISCO ARTEN
A notícia da proclamação da República chegou a São João da Boa Vista dois dias depois. Veio por telegrama e provocou alvoroço e entusiasmo. A cidade, que vivia da produção do café, já era republicana havia algum tempo.
Os cafeicultores desistiram da monarquia ao longo dos últimos anos por motivos diversos. A abolição dos escravos decepcionou os mais radicais, embora tenha causado relativo impacto. Muitos fazendeiros, por conta própria, já haviam liberto seus negros. Custava menos do que sustentá-los com a comida até o final de suas vidas, quando já não eram úteis como na juventude.
Outros também abriram mão de seus escravos, não por interesse econômico, simplesmente, mas por convicções ideológicas e religiosas. A cidade tinha um grupo de abolicionista atuante, liderados pelos Irmãos Rehder.
O que importunava mais os cafeicultores eram os impostos e as leis da monarquia, que dificultavam, na visão deles, a exportação do produto.
Aos poucos os monarquistas foram sofrendo derrotas e diminuindo seus apoiadores na Câmara Municipal. Quando da proclamação da República, já não havia nenhum vereador monarquistas em São João.
O Partido Republicano fora implantado na cidade pela atuação dos principais cafeicultores e fazendeiros, como o Coronel Joaquim José. Contou, ainda, com o apoio da Igreja Católica, na figura do Padre José Valeriano e Joao Osório, que virou nome de uma das principais avenidas da cidade.
Ao tomar conhecimento do teor do telegrama dando conta do fim da Monarquia, João Osório de Andrade Oliveira, que liderava a Câmara, convoca seus pares para uma sessão extraordinária, marcada para as 17 horas daquele mesmo dia. O mesmo telegrama também informava a mudança no Governo de São Paulo.
A Câmara funcionava na Rua São João, atual prédio do SENAC. Ao longo do dia, a notícia foi se espalhando. Na hora marcada, o auditório da Câmara ficou lotado rapidamente e uma multidão se acumulou em frente ao prédio.
O Coronel João Osório comunicou o fim da Monarquia e quis definir, com seus pares, quais as providências que a cidade deveria adotar diante do novo regime. Todas as pessoas importantes da cidade estavam lá.
Os vereadores foram consultados se queriam aderir ao novo governo e houve unanimidade no apoio. Lavrou-se, então, a ata e 168 sanjoanenses assinaram o documento, entusiasmados, certos de que novos e bons tempos se iniciavam com o novo regime.