POR LETÍCIA BONARETI LORETTE

Em janeiro deste ano, o livro O Silêncio dos Livros, do escritor sanjoanense, Fausto Panicacci, alcançou o terceiro lugar entre os mais vendidos na Amazon (mercado on-line) da Espanha. O autor aponta o prêmio como uma chance da cultura brasileira ser reconhecida de maneira positiva, internacionalmente. “Não é incomum, infelizmente, que sejamos retratados no Exterior de forma bastante negativa, e os estrangeiros acabem criando, sobre o Brasil, uma imagem distorcida, reduzindo-nos aos clichês de um país composto apenas por malfeitos e euforia. Tentei, ainda, nos poucos parágrafos dessa história, traçar algo diferente, fazendo uma releitura poética da nossa identidade, a partir da língua que falamos.”

O grande sucesso veio após a internacionalização da obra, que passou a ser vendida na Espanha, Estados Unidos, México, Portugal, Austrália e Inglaterra. Ele conta que teve incentivo fundamental da LC Comunicações, agência que divulga seus livros. “Censura, manipulação genética e identidade são temas que ganham espaço no mercado internacional”, conta Panicacci. A obra também foi reestruturada para alcançar o novo mercado, traduzida para o Inglês e o Espanhol, e reeditada com nova capa, diagramação e acréscimo de fotografias autorais de locais do enredo, com lançamento simultâneo em diversos países.

O Silêncio dos Livros, que se enquadra no gênero ficção literária e herança cultural, se passa em uma realidade fictícia, onde os livros são proibidos por serem considerados antidemocráticos. Com isso, os personagens Santiago Pena e Alice levam os leitores para acontecimentos misteriosos e bibliotecas fantásticas. O autor conta que a ideia para o livro surgiu durante seu período de doutorado em suas andanças por Vila Nova de Gaia e Porto, em Portugal. A pequena Alice surgiu de um fato cotidiano da mesma época: uma garotinha que, com um livro sobre a mesa, tentava sem sucesso atrair a atenção dos pais, os quais não se falavam e se distraiam mexendo no celular. Sobre o tema proibição de livros, Fausto pontua que “não é novo e, infelizmente, vem se repetindo ao longo da história, mas quis trabalhá-lo de uma forma um pouco diferente, partindo da intolerância na esfera privada, para só depois projetá-la para o Estado e a proibição por lei.”

O SILÊNCIO DOS LIVROS (Foto: Divulgação)

Quando perguntado sobre sua expectativa para o futuro da literatura, o escritor se mostra positivo e acredita em um mundo onde os livros marquem presença, diferente do enredo de sua história. “Eu não me atenho muito às estatísticas, a realidade tem me mostrado que algo escapa a esses levantamentos. Há um número gigantesco, mesmo no Brasil, de grupos de leitura, blogs e outros perfis dedicados à Literatura e troca de informações sobre livros. Eu tenho sido diariamente surpreendido por pessoas, a maioria desconhecidos, que moram distantes, amam a Literatura e que ainda se encantam com livros. O gosto por ler não é algo que se adquire do nada, mas sim com incentivo que deve começar em casa e ser reforçado na escola. E é preciso que os livros colocados para o leitor sejam realmente capazes de lhes dizer algo. Há uma profusão de títulos no mercado que parecem ser apenas cópias malfeitas de bestsellers, ou tentativas descuidadas de imitar algum escritor consagrado”.

Fausto, que além de escritor é também Promotor de Justiça, diz que a leitura sempre esteve presente em sua vida. Na juventude escrevia de forma amadora, mas foi na vida adulta que levou o hobby a sério. Apaixonado por esse trabalho, relata que “escrever é algo maravilhoso por diversos aspectos. Por meio da escrita é possível observar o mundo por outros olhos (o dos personagens), transmitir experiências, dialogar com o outro (com os leitores, com outros autores, com outros livros)”.

FAUSTO PANICACCI- (Foto: Divulgação)

O sanjoanense conta que já está preparando novos livros e tem a intenção de lançar um ainda este ano. Mas adianta que seu próximo romance terá São João da Boa Vista e região como lugares importantes na história. “Se dá com uma viagem pelo interior do Brasil, os personagens cruzam nossa região, passando por São João da Boa Vista e algumas cidades vizinhas.”