POR JENNIFER PEIXOTO E DANILO CICONI

O ambiente externo é campo onde projetamos a nossa subjetividade (tudo o que existe no nosso interior: ideias, pensamentos, sentimentos…). Buscamos encontrar, fora de nós, um pouco daquilo que trazemos dentro – nossas emoções e afetos. Cuidar do que está fora é, em certo grau, zelar pelo próprio interior. A Psicologia e a Arquitetura são modos distintos, mas complementares, de narrar e construir a história da humanidade e dos indivíduos.

A Psicologia Ambiental é uma área de intersecção entre essas duas ciências, que procura aplicar conhecimentos e descobertas da Psicologia (sobretudo, na atualidade, de um campo chamado Psicologia Positiva) à composição de projetos arquitetônicos ou ao design de interiores. Deste modo, determinadas características do ambiente seriam otimizadas a fim de promover resultados específicos nos comportamentos e nas emoções humanas.

Diversos estudos em variados ambientes e populações sustentam o escopo teórico da Psicologia Ambiental. Intervenções simples na disposição espacial de objetos em creche, por exemplo, foram capazes de melhorar de forma recorrente o comportamento e a adaptabilidade de crianças no ambiente escolar (inclusive reduzindo condutas agressivas). Resultados similares foram encontrados em asilos, em fábricas, escritórios e, até mesmo, no ambiente doméstico. Fatos estes que podem ser validados pela expoente procura por arquitetos e designers para reestruturar ambientes corporativos.

A paleta de cores, a disposição dos móveis e objetos no ambiente, a qualidade da iluminação, a propagação de ruídos e sons etc., são fatores ambientais que influenciam a promoção de estados de humor (vivências emocionais) ou cognitivos (por exemplo, capacidade de manter a atenção e o foco, acesso a memórias, etc.) mais ou menos positivos. São ferramentas poderosas para quem busca organizar espaços de trabalho, por exemplo, que colaborem tanto com a produtividade quanto com a saúde mental e relacional dos colaboradores. Ou, ainda, para quem busca construir um ambiente doméstico que gere mais conforto, que favoreça o descanso e o relaxamento, que ajude a combater a ansiedade.

CORES, ILUMINAÇÃO E ESPAÇOS

Um dos elementos que pode influenciar diretamente no humor e no comportamento das pessoas é a iluminação. Quando um ambiente pede mais privacidade e descontração, normalmente tem uma iluminação mais amena, pontual e com cores quentes, como é o caso de diversos pubs. Já ambientes que necessitam de maior concentração e atenção precisam de mais iluminação, por exemplo, salas de aula, que têm, em sua maioria, luz branca. Ambientes com usos diversos podem contar com diferentes sistemas de iluminação: um quarto que possui uma área de estudos pode ter uma iluminação geral, uma voltada para a área de estudos (estimulando a concentração) e uma iluminação mais baixa (para momentos de descanso).

(Foto: Reprodução internet)

As cores também têm papel fundamental na interação do usuário com o espaço. Cores em tons pastel trazem a ideia de tranquilidade, enquanto outros tons, como o vermelho, tendem a provocar certa agitação, a depender do tempo de permanência no local. Além disso, as texturas também podem mudar a percepção do espaço, evocando aconchego ou frieza.

No ambiente doméstico, a disposição do mobiliário, dos objetos e até dos elementos construtivos influencia diretamente na percepção de espaço e sensorial dos moradores ou visitantes. Os ângulos das paredes e colunas podem criar ambientes claustrofóbicos ou amplos. Assim, também, os móveis podem ser organizados de uma forma ‘clean’ ou deixarem o ambiente pesado. Ainda quanto aos objetos, é importante que alguns sejam significativos para os moradores, trazendo-lhes sensação de felicidade e pertencimento. Deste modo, estimulam a liberação de neurotransmissores importantes, como a serotonina (um dos “hormônios da felicidade”), o qual ajuda a combater a depressão.

Diante disso, ao construir, iniciar uma reforma ou decorar um ambiente, mais que vislumbrar o resultado material, cabe refletir acerca das crenças pessoais, dos pensamentos e sentimentos que estão envolvidos naquele projeto: desde as motivações que me levaram a iniciá-lo até os resultados que gostaria de obter através dele, no campo pessoal e social. De que modo aquela obra “conversa” com a minha identidade e subjetividade? Os espaços em que estou atuando estão promovendo saúde? Como posso deixar o ambiente eficiente e motivador para que eu possa realizar minhas atividades cotidianas com o máximo bem-estar?

É importante ressaltar que cada projeto é único, assim como cada ser humano. Portanto, as soluções que funcionam para uma pessoa ou espaço podem não caber em outros. O ideal é procurar orientação especializada para atender às demandas específicas daquele projeto, a fim de realizar um plano de trabalho individualizado.

Os olhos treinados de um bom arquiteto ou designer (que, além dos ferramentais próprios da área – medições, cálculos, softwares etc., se incline diante da riqueza dos processos humanos e psicológicos) podem nos ajudar a imprimir no mundo, de fato, o que estamos gestando no nosso interior.

Um bom psicólogo pode nos auxiliar a entender de que modos expressamos a nossa subjetividade no ambiente em que vivemos e atuamos e, ainda, como tal ambiente influencia as nossas vivências mais pessoais e subjetivas. A arquitetura e a psicologia podem servir, desta forma , para promover o melhor das potencialidades humanas, a prevenir mazelas e a construir, literalmente, saúde e alegria.