POR PEDRINHO SOUZA

São João da Boa Vista está aos pés da Serra, uma região recheada de montanhas. A cidade também é conhecida pelos maravilhosos crepúsculos e considerada uma das cidades mais quentes da região. Neve por aqui passa longe, mas o casal sanjoanense, Renan Rocha Campos e Kaline Fernandes, apaixonados por corrida, foram na contramão e encontraram um meio de unir as duas coisas: montanha e neve.

A dupla integra a primeira Seleção Brasileira de Snowshoeing (corrida de montanha com raquetes de neve). Eles representariam o Brasil no Mundial do Japão, que foi realizado em fevereiro, em Myoko, mas por falta de verba não conseguiram participar. Contudo, a preparação está sendo para disputar mais uma vez a Copahue Extremo, que fica localizada no pé do Vulcão Copahue, na Patagônia (Argentina), entre agosto e setembro. A competição dá vaga para o próximo Mundial de Snowshoeing, que ainda está em votação para saber qual país sediará. Em bate papo com o casal, Kaline contou as principais dificuldades em competir na neve. “O que mais pesa são as baixas temperaturas e o peso de todo material que a gente usa. Já para competir, encontramos dificuldade financeira, pois os treinos e campeonatos têm um alto custo. Mesmo com essas adversidades, somos gratos aos nossos apoiadores, pois sem eles não conseguíamos chegar tão longe”.

Foto: Arquivo pessoal – Renan Rocha Campos / Kaline Fernandes

VÍCIO E PAIXÃO

Nos últimos seis anos, Renan corre em alta performance, já competiu em vários lugares do país com os melhores atletas da modalidade. A corrida para ele virou um estilo de vida. “Eu acordo pensando em corrida e vou dormir pensando em corrida. Resolvi fazer do esporte a minha vida”, comenta. Renan passou das pistas para as trilhas; agora se dedica nas montanhas, que foi onde encontrou Kaline, outra fascinada por corrida. Juntos criaram uma rotina dura de treinamentos. “É uma prática diária bem pesada, normalmente são dois treinos por dia, alternando entre corrida, musculação, natação, pilates e ciclismo. Tudo com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Um apoia o outro, isso ajuda a motivar”, diz.

Foto: Arquivo pessoal – Renan Rocha Campos / Kaline Fernandes

SUPERAÇÃO

Kaline tem uma história de vida emocionante e o esporte foi ferramenta fundamental para superar todos os desafios. Aos 13 anos ela teve uma meningite que, posteriormente, levou ao coma. Ficou três dias na UTI, os médicos diziam aos pais de Kaline que ela não sairia dessa. Deram 72 horas para acordar, caso contrário, sairia com algum tipo de deficiência.“Foi uma época terrível, no terceiro dia de UTI eu acordei, mas eu não tinha movimentos da cintura para baixo. Minha família e eu passamos por situações difíceis, mas com muita fé superamos e aos poucos tive minha saúde totalmente restaurada. Tudo isso me deu muito sentido à vida”.

CORRIDA DE NEVE

A atleta enviou este relato para a organização da Copahue Extremo, na Argentina, o que agradou a organização que a convidou para fazer parte da competição, em 2018. No ano seguinte, o casal recebeu o convite para fazer parte da primeira Seleção Brasileira de Snowshoeing, por meio de análise de índice técnico, já que eram atletas de corrida de montanha. “Correr representando uma nação é muito maior do que a gente pensava, é uma responsabilidade muito grande, isso nos incentiva a querer treinar sempre mais”, completa Kaline.

Foto: Arquivo pessoal – Renan Rocha Campos / Kaline Fernandes

O ESPORTE

O snowshoeing é um esporte conhecido como corrida com raquetes de neve. Os atletas cruzam um percurso o mais rápido que podem enquanto usam um sapato especial, que lembra uma enorme raquete. O acessório funciona como uma ‘prancha’, que é acoplada nas botas para caminhar na neve. As raquetes distribuem o peso, assim o pé não afunda completamente, na pisada. O objetivo dos praticantes é de que a modalidade faça parte dos Jogos Olímpicos de Inverno.