Liberdade e representatividade refletem o empoderamento da mulher
POR PRISCILA ANIELE
SOB SUPERVISÃO DE JOSÉ DIAS PASCHOAL NETO
Rendas, transparência, leveza e muita sensualidade! Embora estas características pareçam refletir apenas a moda íntima atual, este cenário também se aplica à década de 1970. Logo após a febre Pin-Up dos anos 50 e 60, enfatizadas pelas curvas femininas, amplos decotes e cinturas marcadas por espartilhos, a lingerie passou por uma evolução em meio a movimentos feministas (com direito a fogueira de sutiãs como forma de protesto), cujo um dos principais objetivos era o conforto.
A busca pela sensualidade acompanhada a moda não restritiva, proporcionou lingeries extremamente sedutoras, confeccionadas em nylon, lycra, tecidos transparentes, mas também muito brilho e glamour, dadas às influências, não apenas da época boêmia, mas também ao movimento disco. As mudanças seguem nos anos 1980 e 1990 com a popularização do fio dental, calcinhas estreitas e erotização da moda íntima em seu máximo estilo. Estrelas como Madonna, influenciaram este cenário oitentista, enquanto trouxe referências de moda fetichista com muito látex, couro e atitude. Tudo isso refletia a busca pelo empoderamento feminino, a luta pela liberdade sexual e direitos da mulher.
Um pouco mais perto dos dias atuais, os anos 2000 marcaram um período no qual os padrões de beleza inalcançáveis eram enaltecidos. Cinturas extremamente baixas, alças finas e roupas íntimas à mostra, são particularidades desta década. O culto à magreza excessiva gerou polêmicas sobre suas consequências.
MERCADO RESCENTE E DIVERSIFICADO
As brasileiras que vão às lojas de lingerie são atraídas por um “bom atendimento” e “variedade dos produtos” (42%). A dobradinha “bons descontos/promoções” e “preços mais baixos” participam com 29%. Os dados são da pesquisa Comportamento de Compra das Consumidoras de Moda Intima Feminina realizado pelo instituto IEMI – Inteligência de Mercado.
Num mercado concorrido e em expansão, empreendedoras do segmento revelam as estratégias. Graziela Arruda Pio, proprietária da Hope em São João da Boa Vista que iniciou sua trajetória com a moda íntima feminina em 2017, destaca: “Hoje, nossa marca investe muito mais em conforto e praticidade. As clientes não querem mais sutiãs com bojo e aro, mas peças que proporcionam muito conforto, aquelas peças que você nem sente no corpo. A linha sem costura veio com força e com muitos modelos. Desde a pandemia o gosto do nosso público mudou. As clientes querem beleza e muito conforto”. Graziela também notou uma diferença na maneira de utilização das peças: “O público de hoje está aprendendo, aos poucos, a usar a lingerie à mostra. Nem que seja uma pontinha da renda do sutiã. Lógico que temos as clientes mais ousadas e conseguem usa-las à mostra, e conseguem um look elegante sem ser vulgar. É só saber como usar, fica lindo e elegante!”.
Elizandra Bergosini Beraldo, fundadora da BellaLi Lingerie, também tem uma longa trajetória dentro da moda íntima feminina. Sua jornada começou há 14 anos, quando decidiu comprar as peças em centros de distribuição e revendê-las no varejo. Hoje, BellaLi confecciona sua própria linha na fábrica localizada em Juruaia, município mineiro que é referência no setor, também possui uma distribuidora localizada em São João da Boa Vista. Elizandra observou alguns pontos importantes ao decorrer dos anos: “O mercado sempre aponta para alguns itens consideráveis, nós sempre recebíamos reclamações da falta de modelos plus size, ou, que quando encontravam, eram apenas cores básicas. Foi quando fiz uma pesquisa com as minhas clientes e criamos uma linha de modelos e cores tendências, além de linha sexy e linha reforçada que traz maior conforto”.
Elizandra também nota um diferencial na maneira atual de consumo: “Atualmente as mulheres procuram se empoderar com as peças, antes se utilizava a lingerie elaborada apenas na intimidade, hoje nós percebemos que a tendência é utilizá-la de modo mais visível, como uma alça de sutiã trabalhada para ficar à mostra, por exemplo. O público mais jovem, costuma usar uma lingerie como uma peça comum de roupa.”
O mercado está atento aos movimentos sociais de representação e coletivos. Assim, felizmente, as marcas têm apostado em diversidade – várias etnias, corpos, modelagens e tamanhos. Afinal, a peça íntima feminina não se trata apenas de um acessório invisível, as lingeries têm sido sinônimo de luta, beleza rebeldia e quebra de padrões.
A lingerie, que costumava ser vista principalmente como uma peça de roupa funcional, hoje desempenha um papel significativo na moda e na autoexpressão das mulheres. Esse setor abrange uma ampla gama de produtos, incluindo sutiãs, calcinhas, camisolas, espartilhos, corsets, pijamas e muito mais. Uma das tendências marcantes no mercado da moda íntima feminina é a ênfase na combinação de conforto, estilo e sustentabilidade. As consumidoras modernas procuram peças que não apenas se ajustem bem e proporcionem suporte, mas também expressem sua individualidade e valores. Materiais mais sustentáveis, como algodão orgânico e rendas recicladas, estão se tornando cada vez mais populares à medida que as pessoas se conscientizam das questões ambientais.
Além disso, a inclusão e a diversidade estão ganhando destaque na moda íntima. As marcas estão expandindo suas linhas para atender a uma variedade de tamanhos e formas corporais, reconhecendo a importância da representação de todos os tipos de corpos. Isso está impulsionando a confiança e a autoestima das mulheres, tornando a escolha de lingerie uma experiência mais positiva e empoderadora. O comércio eletrônico também desempenha um papel importante no mercado da moda íntima feminina. Muitas marcas oferecem a conveniência de fazer compras online, permitindo que as consumidoras escolham entre uma ampla variedade de estilos, tamanhos e cores no conforto de suas casas. A facilidade de comprar lingerie online e a discrição que isso proporciona contribuíram para o crescimento contínuo desse setor.
Outro fator importante que está moldando o mercado da moda íntima feminina é a tecnologia. A inovação está desempenhando um papel fundamental no design e na produção de peças de lingerie. Isso inclui o uso de tecidos de alta tecnologia que proporcionam respirabilidade, controle de umidade e conforto, tornando a experiência de usar lingerie mais agradável. Além disso, a incorporação de tecnologia inteligente, como sutiãs com sensores de ajuste automático e conectividade com aplicativos móveis, está ganhando popularidade, permitindo que as consumidoras personalizem o ajuste de suas peças. A moda íntima feminina também está acompanhando as tendências de moda. A influência das passarelas e das celebridades é claramente visível em designs de lingerie, que muitas vezes apresentam rendas delicadas, bordados e detalhes elegantes.
O mercado também testemunha uma crescente interseção entre a lingerie e o loungewear, à medida que as consumidoras procuram peças versáteis que possam ser usadas tanto para o conforto diário quanto para ocasiões especiais. Por fim, vale ressaltar que a moda íntima feminina é mais do que apenas roupas: ela é uma parte essencial da autoexpressão e da confiança das mulheres!