POR MIRELA BORGES
Você é um consumidor consciente? O consumo responsável não está ligado necessariamente a escolher apenas produtos sustentáveis, mas em ter consciência do que está comprando. Este conceito vem crescendo cada vez mais e influenciando principalmente a área da moda, uma das maiores indústrias do mundo. Este segmento tem ligação direta com um grande desenvolvimento econômico e geração de empregos e, ao mesmo tempo, tem um grande impacto no consumo de recursos naturais (matérias-primas, energia, água e químicos), insumos necessários para fazer este setor funcionar.
Diante disso, a consultora de negócios do SEBRAE, Thalita Medeiros, explica os impactos do consumo consciente no mercado. “São vários. Citando alguns: redução de emissão dos resíduos poluentes na fabricação de produtos, mão-de-obra contratada dentro da legislação e direitos trabalhistas, redução de produtos químicos nos processos, aumento de consumo de produtos reciclados e biodegradáveis, aplicação de novas tecnologias, aumento de projetos de preservação ambiental e social com patrocínio de empresas, reutilização de materiais. Estamos falando de impactos nos processos, tecnologias, relações trabalhistas, logística e descarte. Isso tudo possui um impacto direto na economia e no mercado”.
Em 2019, ao redor do mundo, centenas de pessoas usaram a hashtag #QuemFezMinhasRoupas para pedir maior transparência da indústria da moda. Para responder esse movimento digital, as marcas compartilharam detalhes sobre as suas produções e trabalhadores contaram suas histórias usando a hashtag #EuFizSuasRoupas. Tudo isso faz parte do Fashion Revolution, movimento global presente em 92 países, que foi criado para dar um basta nas condições degradantes de trabalho da cadeia produtiva da moda. A campanha surgiu após o desabamento do prédio Rana Plaza, em Bangladesh, país asiático, no ano de 2013. O desastre no local, que abrigava fábricas e um centro comercial causou a morte de mais de 1.134 pessoas e outras 2.500 ficaram feridas.
Com cada vez mais adeptos as práticas sustentáveis, muitas empresas estão apostando em manter suas linhas de produção mais transparentes ao público. “Os debates e reflexões em torno do consumo consciente se intensificaram nos últimos anos e ganharam ainda mais destaque durante a pandemia”, afirma a consultora do SEBRAE. Um dos exemplos de empresa sustentável é a Maria Tangerina, marca que produz bolsas veganas. “O consumo consciente parte do princípio de um consumo intencional, onde você sabe de onde vem o que você compra e escolhe intencionalmente incentivar e investir em um produto que além de durável vai contribuir com uma cadeia de produção ética e responsável. Como a moda é um meio de expressão, consumir de marcas que se identificam com alguns conceitos que remetem à essa consciência, (como slow fashion, transparência, sustentabilidade social e ambiental) transmite uma mensagem muito forte que inspira esse movimento de consciência no consumo de outras áreas, que não apenas a moda”, explica a fundadora da marca Priscila Cortez.
BOLSAS E ACESSÓRIOS VEGANOS
A Maria Tangerina surgiu em 2013, quando sua fundadora finalizava o curso de Design de Produtos. Ela começou a produzir os produtos por encomenda e vendê-los online. “Pouco tempo depois, conheci o grupo da economia solidária Cardume de Mães que foi o primeiro ateliê que nos atendeu. Quando começamos a terceirizar de maneira responsável a produção, vi que era possível levar o projeto mais longe, me dedicando ao design das peças e à estrutura do negócio de maneira mais profissional. Na empresa prezamos pela transparência, pelo trabalho ético e responsável e não usamos matéria prima de origem animal. Nosso objetivo é mostrar que é possível trabalhar com moda de uma maneira nova e inspirar outros negócios a buscarem esse caminho.”, conta Priscila.
A assistente de e-commerce Rayla Mendes, era fã da Maria Tangerina principalmente pela preocupação da marca com o meio ambiente e a sustentabilidade, e há seis anos realizou o sonho de fazer parte da equipe. “Eu e a Priscila nos conhecemos em uma feira, onde eu comprei minha primeira peça da marca, os anos se passaram e fomos ficando mais próximas, até que veio o convite para me juntar à equipe. É incrível trabalhar com que eu já admirava antes, quando eu era apenas cliente. Esse trabalho inspira outras marcas, inspira pequenos produtores, inspira clientes. A Maria Tangerina mostra e compartilha novos caminhos para quem quer seguir um consumo consciente facilitando as práticas corriqueiras, e a mudança de hábitos.”
É possível as empresas buscarem a transparência nos negócios e investir em iniciativas conscientes, como ensina Thalita Medeiros: “a empresa deve iniciar com um planejamento estratégico. Analisar quais são os impactos de suas ações no ambiente, na sociedade, e quais tecnologias existentes podem auxiliar na redução deles. Também existem processos de certificações em vários segmentos, e a empresa pode adequar-se para obter esses certificados e selos, garantindo transparência. Por meio do planejamento, poderá organizar ações que, quando efetivas, geram mais valor no mercado frente aos consumidores”.
A consultora de negócios afirma ainda que nossos hábitos de consumo afetam diretamente a sociedade, a economia e o meio ambiente. “Poucos consumidores levam isso em consideração no momento da compra. Tudo o que consumimos, impacta diretamente a vida de todos. Será cada vez mais importante conhecermos o trajeto dos produtos desde sua fabricação até nossa casa. Só assim, poderemos minimizar os impactos negativos gerados, ou reduzi-los, fazendo com que o mercado fique cada vez mais atento as nossas escolhas e hábitos de consumo. Entenda a importância disso: se você muda seu hábito de consumo, o mercado muda frente as suas exigências. Atualmente, o poder de escolha do consumidor pode mudar todo um segmento, o que não acontecia anos atrás”.