POR DANIELA PRADO

Encontrar no mercado aquela roupa pronta, que vista perfeitamente a pessoa que dela necessita, nem sempre é tarefa possível – cada corpo é único e não é raro encontrar quem vista calças, bermudas, saias ou shorts de uma determinada numeração e blusas, camisetas ou roupas ‘de cima’, de outro manequim. Isso sem mencionar o comprimento, o que sempre faz com que o(a) comprador(a) precise de alguém para fazer barras e ajustes.


UM POUCO DE TUDO – Jusele Cristina Cazarini Massucatto abriu seu ateliê em meados de 2009. “Aqui eu ofereço serviços como reparos, cortinas, confecção e roupas prontas, como vestidos, calças, até mesmo roupas de festa. Nessa trajetória de 13 anos aqui, já saiu até vestido de casamento”.

É aí que entram em ação as costureiras, profissionais cujo dia é comemorado em 25 de maio e que podem colocar em prática tudo o que sonha um(a) cliente que gosta de se vestir com exclusividade. Uma destas consumidoras é Patrícia Augusta Athayde, motorista particular que, sempre que quer roupas novas, vai direto ao ateliê de Sheila Veronez, em São João da Boa Vista. Patrícia revela que prefere encomendar roupas sob medida, até porque estas atendem melhor ao seu tipo físico diferenciado. “Como sou alta e tenho um quadril muito largo, quando compro roupa pronta, sempre tenho que reformar. E nada como fazer numa costureira, ainda mais como a Sheila, né? Que você faz sob medida, a roupa fica acinturada, certinha, ela faz do seu gosto e sai de acordo com o seu corpo”, observou.

A motorista particular também aponta a exclusividade no modelo como uma das vantagens de se levar peças de vestuário para costureiras executarem. “Ninguém vai ter a roupa que eu tenho, porque eu escolhi o meu tecido, escolhi a minha costureira e escolhi o meu modelo. Então, por isso é que eu opto por fazer com costureiras”, justificou. A atitude de Patrícia traz à tona a consciência social que envolve o consumo de roupas ‘fabricadas’ por costureiras, afinal, comprar do pequeno empreendedor faz a economia local girar. A moda é a segunda maior indústria poluidora do mundo – só perde para a petroleira – por causa do fast-fashion, assim sendo o consumo consciente de roupas é importante também neste aspecto.

SOB MEDIDA

Ser costureira é um ofício que apresenta diversas histórias, entremeadas com o motivo que levou alguém a seguir o sentido do tecido da vida, alinhavando suas experiências até chegar ao vestuário do reconhecimento, da cartela de clientes fiéis. Para Jusele Cristina Cazarini Massucatto, empreendedora e costureira, esta história começou em meados de 2009, quando abriu seu ateliê. “Aqui eu ofereço serviços como reparos, cortinas, confecção e roupas prontas, como vestidos, calças, até mesmo roupas de festa. Nessa trajetória de 13 anos aqui, já saiu até vestido de casamento”, lembrou Ju, como é chamada.

Ela também confecciona peças sob medida, embora reconheça que os reparos têm maior procura. “Todos os dias chegam clientes pedindo uma pence, para apertar, soltar e muito mais. Também confecciono peças sob medida, mas sempre com antecedência, para dar tempo de fazer ajustes, caso necessário e cumprir o prazo”, contou. Indagada sobre como vê o mercado no qual está inserida, principalmente nestes tempos de tantas tecnologias, Ju analisa que comprar on-line é muito comum hoje em dia, mas ainda existem pessoas que preferem fazer isso pessoalmente. “Às vezes, a peça da compra virtual pode não servir ou ficar diferente do que a pessoa espera. Então, o presencial permite que se tire as medidas exatas do corpo, ajuste o que for necessário e a cliente sai satisfeita, com uma peça única e exclusiva, pois é ela quem escolhe o tecido e o modelo que preferir. E no mundo da costura não teria como ser on-line, já que para apertar ou fazer uma barra, a pessoa precisa vir até o ateliê, experimentar para que eu marque o que ela deseja que seja feito e, assim, entregue um serviço de qualidade”, acentuou.

Já a designer de moda Mariangela Gallardo está há 6 anos com seu ateliê que, além de roupas sob encomenda, também oferece costura criativa e aulas de corte e costura, web designer e tricô. “Como fiz faculdade de moda e estilismo na universidade Anhembi Morumbi, sempre me interessei por moda. Mas a ideia de montar o ateliê veio após frequentar workshop de costura”, confessou Mariangela. Quanto aos cursos que seu espaço oferece, ela observa que são muito procurados por pessoas de diversas idades, pois dá oportunidade para que elas criem. “Nossas professoras procuram entender as necessidades de cada aluno(a), dentro do universo de sua criatividade. Temos curso do infantil ao adulto”, disse.

A ARTE DE COSTURAR

Sheila Stefania Veronez Assalin, empresária, começou a se interessar por costura ainda na infância. “Eu sempre gostei de trabalhos manuais, sempre gostei de fazer roupinhas de boneca, fossem de tecido ou de papel. Também gostava, desde muito criança, de fazer crochê, bordado. Mesmo costura, minha avó e minhas tias me ensinavam algumas coisas, então eu sempre tive esse interesse”, revelou. Na adolescência, por volta dos 14 anos, Sheila foi fazer um curso de corte e costura, pois queria um trabalho que lhe desse independência econômica em relação aos seus pais e que não fosse ‘pesado’, como o deles, que lidavam na roça. “Eu tinha muito interesse por costura e comecei a desenvolver o meu próprio método, a partir de algumas coisas que eu via e achava que poderiam ser diferentes. Assim comecei a criar a minha modelagem. No entanto, hoje eu raramente faço molde. É como se os moldes estivessem todos na cabeça. Eu vejo um modelo, uma foto, desenho alguma roupa, pego a tesoura e simplesmente corto a peça”, descreveu Sheila, sobre como é seu trabalho.

A primeira máquina, ela ganhou do pai, quando tinha entre 14 e 15 anos, e logo começou a se dedicar bastante à costura, sendo que a primeira encomenda foi a de um casaquinho estilo blazer, solicitado por uma amiga da escola na qual Sheila estudava. Foi um desafio, pois o modelo possuía gola e bolso embutido, detalhes que a empresária não havia aprendido – mas recorreu a uma costureira próxima e explicou a situação. “Fiz uma aula com ela, de como fazer gola, bolso… Eu me lembro que cheguei em casa e fiz inúmeros bolsos, inúmeras golas até ficar bom e conseguir fazer aquele casaquinho. Consegui entregar e ficou muito bom!”, exclamou, completando que esta memória lhe traz muita satisfação. A partir de então, as pessoas começaram a ajudá-la e, de vizinho em vizinho ou colega de trabalho, as encomendas foram aumentando e Sheila foi ficando conhecida.

Depois dessa fase, eu me casei, vim para São João e aqui, como era uma cidade nova, eu não conhecia muitas pessoas, então comecei a estudar e a me envolver na área da educação. Fiz Pedagogia, fiz duas pós graduações, me formei em educação infantil e alfabetização e em Psicopedagogia. Trabalhei dez anos na educação, mas nunca vendi minhas máquinas. Em final de semana, mesmo trabalhando e estudando, ainda fazia roupas para mim, às vezes até uma ou outra para as colegas de trabalho”, comentou. Embora trilhando uma carreira na educação, na qual foi de secretária a diretora de escola, Sheila percebeu que não era bem essa a vida que queria para si mesma.

MUDANÇA DE VIDA

Após descobrir uma leucemia aguda e passar por todo o processo de tratamento e transplante de medula, a empresária decidiu que era da costura que gostaria de viver. “Costurava para ocupar minha cabeça, comecei a fazer roupas para doação, doei muitas no começo. Depois começou uma pessoa a pedir daqui, outra a pedir dali e meu trabalho começou a crescer, fui ficando conhecida e quando fui voltar para a educação, vi que eu não queria mais. Não era o que eu queria para a minha vida, que o que eu amava de verdade e me fazia bem, como faz até hoje é a costura”, concluiu.

Atualmente, Sheila faz consertos para as lojas e particulares, ajustes, costura sob medida e também vende roupas prontas – e possui muitos clientes, de todas as classes sociais. “Eu sou uma pessoa muito realizada no trabalho que escolhi. Eu digo que não preciso de muito para ser feliz. Só de Deus ter me dado a chance de estar viva, com saúde, de ter visto o meu filho crescer, eu sou muito grata a Ele. Hoje eu sou reconhecida, o pessoal me valoriza bastante, eu faço um bom trabalho. E eu só tenho a agradecer”, finalizou.