Por Ignácio Garcia
Tudo começou com um hobby, por prazer, no ano de 2008, enquanto o sanjoanense Cassio Becker, 47, ainda era servidor público federal. À época, com 37 anos, Becker coordenava e atuava no setor de informática do Ministério do Turismo, em Brasília DF, onde trabalhou na área pública por aproximadamente vinte e cinco anos.
Sem filhos, Becker queria mais, desejava algo que ‘saísse’ de suas próprias mãos. Foi então que encontrou a possibilidade de produzir alguma coisa real, “física mesmo” e inscreveu-se no curso Introdução à Cutelaria Artesanal, pela Universidade de Brasília (UnB). “Apaixonei-me pela arte! Daí em diante, fiz outros cursos de cutelaria e fui me aperfeiçoando”, contou à reportagem da Atua.
E de lá para cá, em dez anos, o artesão e cuteleiro só obteve conquistas, participou de inúmeros concursos de cutelaria pelo país e é um dos organizadores do Salão Brasiliense de Cutelaria, que ocorre no início de abril, na capital federal, fruto da parceria estabelecida entre o Instituto de Artes da UnB e a Sociedade Brasileira dos Cuteleiros.
Cassio teve a honra de ser premiado em todos estes concursos, em categorias variadas.
No mais recente evento, a Feira Anual de Cutelaria Artesanal de Sorocaba, que foi realizada no primeiro final de semana de agosto, Becker foi premiado.
“Existem alguns eventos de cutelaria pelo País. Os maiores são os dois de São Paulo e Sorocaba (no Estado de São Paulo), Curitiba (PR) e Brasília (DF). Nestes eventos promovem, entre os cuteleiros presentes, concursos para diferentes categorias de facas; às vezes chegam a mais de cem modelos”, conta.
Nos Estados Unidos e pela Europa, também há muitos eventos voltados à cutelaria e alguns poucos brasileiros têm a oportunidade de participar. “Dos brasileiros de que tive o prazer de ser aluno, alguns destes também foram premiados, o que eleva o nome da cutelaria nacional a um patamar de muito respeito no mercado internacional”.
Trabalho
A experiência galgada por Cassio Becker fez com que, no início de 2017, ele passasse a viver apenas desse trabalho. Depois de mais de trinta e poucos anos vivendo e trabalhando fora de São João, ele voltou no início de 2018 e hoje vive na cidade. “Trabalho com vários materiais: aços especiais para as lâminas, bem como fabrico aço damasco [um tipo de aço obtido através da mistura de outros], o que proporciona padrões sensacionais nas lâminas”, contou.
Mas Becker também usa materiais do mundo todo para a fabricação dos cabos, que são desenhados especialmente para cada tipo de uso.
“Madeiras exóticas americanas, africanas, asiáticas, materiais sintéticos, fibra de carbono etc.”, afirma. Já para as bainhas, usamos couros de primeira linha, naturais, curtidos ou exóticos.“Sinto-me realizado profissionalmente. Faço parte da família da Cutelaria Artesanal Brasileira e sou apaixonado por essa nobre arte”, conclui.
E o cuteleiro Cassio Becker foi mais além e, atualmente, além da produção de facas em sua oficina, à rua Irmãos Marcos, 173, no bairro Santo Antônio, o profissional ainda ministra cursos para iniciantes e cuteleiros já experientes.
Origem da cutelaria
Se você não sabe o que exatamente significa cutelaria, não se assuste. Uma legião de brasileiros ainda desconhece a palavra. Apesar de o termo cutelaria ser pouco utilizado, ele começa a aparecer com maior frequência, inclusive fora dos círculos especializados.
Resumindo, cutelaria é a arte de fabricar instrumentos de corte. A palavra cutelo — instrumento cortante semicircular de ferro — vem do latim cultellu(faquinha), de onde provém também a palavra cutela, faca larga para cortar carne.
As facas fazem parte da história do homem e não é possível imaginar o desenvolvimento de nossa raça e a sua sobrevivência sem elas.
No paleolítico inferior, há 2.500.000 anos, na Tanzânia e na Etiópia já existiam as primitivas facas feitas de lascas de pedra. Com elas foram feitas as pontas das lanças de madeira, foi cortado o couro para as roupas e foram produzidos utensílios destinados à defesa e ao abrigo.
Podemos dizer que o que diferenciou o homem dos macacos foi, sem dúvida o fato de que um descobriu a faca e dominou o fogo e o outro não.