Fábio Mucin, da Solbras
Por Reinaldo Benedetti

Uma empresa sanjoanense, criada em abril de 2013, vem ganhando cada vez mais espaço no mercado de energia solar fotovoltaica e, atualmente, já está entre os principais players de geração distribuída do Brasil.

Desde 2017 instalada no Distrito Industrial de São João da Boa Vista, a Solbras atua nacionalmente e possui braços em Goiânia e Porto Alegre. São cerca de 20 colaboradores diretos e mais de 100 representantes espalhados em 22 estados no país. A Revista Atua foi conhecer de perto os projetos de energia solar fotovoltaica, gerada através de painéis com tecnologia de células de silício. Fábio Mucin, diretor de operações da Solbras, foi quem recebeu a reportagem na sede da empresa em São João e revelou detalhes de um mercado promissor no Brasil. Fábio explica que a Solbras começou a atuar logo depois que foi lançada a Resolução Normativa nº 482/2012, que regulamentou o setor em dezembro de 2012, o que faz dela uma das empresas mais antigas deste mercado, no país. “Ela foi precursora porque quando a resolução apareceu, não havia muitas empresas, já que na prática o mercado não estava regulamentado. As concessionárias não estavam preparadas para receber os projetos. Quando a gente entrou, existiam menos de 80 sistemas instalados no Brasil. Era nada, algo incipiente”. Hoje, a empresa vem crescendo exponencialmente devido à forte atuação dos representantes comerciais, aliada aos convênios que vem firmando. Recentemente, fez parcerias com a Coopercitrus, em São Paulo, com a Copercampos, em Santa Catarina e com a Emater, no Rio Grande do Sul.

“A Coopercitrus e a Copercampos são nossas parceiras na comercialização para o agronegócio nas regiões em que atuam. Isso dá uma musculatura grande para a gente. São suportados tecnicamente por nós e estão vendendo as usinas fotovoltaicas para os seus cooperados. Já no caso da Emater, possuímos um termo de cooperação técnica para difundir a tecnologia no meio rural”, conta.

A TECNOLOGIA

A empresa sanjoanense desenvolve projetos de geração de energia solar para indústria, comércio, agronegócio e residências, sendo o foco nos três primeiros. Atua principalmente no mercado de geração distribuída, que são usinas fotovoltaicas com até 5 MW (megawatts) de potência. A RN-482, que foi atualizada com a Resolução Normativa nº 687/2015, regulamenta o sistema de compensação de créditos. O que é produzido a mais do que a energia consumida, vira créditos que são computados na conta de energia e podem ser usados para abatimento do consumo em até 5 anos.

INSTALAÇÕES — Instalada no distrito industrial, em São João da Boa Vista, a Solbras possui mais de 20 funcionários, além de um centro de distribuição e também um escritório de engenharia em nossa cidade, onde são gerenciados os projetos e instalações.

A tecnologia usada pela Solbras, ressalta Fábio, não tem nada a ver com aquecimento solar. As células de silício dos painéis recebem um tratamento que faz com que parte dos elétrons, ao receberem a luz solar, fiquem livres para circular no material. Ao se conectarem os painéis a uma carga, esses elétrons fluem, gerando corrente elétrica. Este é o efeito fotovoltaico em ação. De forma simples, o sistema que produz a energia é conectado no próprio quadro de distribuição, que é ligado ao medidor da casa ou empresa. Por ser uma tecnologia que demanda um investimento alto, Fábio Mucin vê, do ponto de vista de desembolso, um mercado mais favorável entre as pessoas jurídicas. “A pessoa física não tem um acesso ao crédito tão barato, e para ter uma usina solar, acaba tendo que pagar com recursos próprios. Um sistema pequeno para residência, por exemplo, custa de R$ 15 mil a 20 mil. Então isso é uma barreira para o mercado residencial, mesmo tendo uma ótima viabilidade econômica, devido às altas tarifas pagas”,aponta.

Por outro lado, o mercado para indústria, comércio e agronegócio, apesar de ser um investimento ainda mais alto, possui um acesso ao crédito mais barato, o que acaba alavancando a possibilidade da empresa colocar um sistema desses, garante o diretor de operações. “Muitas vezes a parcela do financiamento é equivalente ao que se pagaria pela energia sem a usina. É como se você continuasse pagando a conta de energia e, no final do financiamento, você ganhasse a usina do banco”. E esse é, inclusive, um diferencial da Solbras, pois ela trabalha em três eixos.

O primeiro é uma análise econômica/financeira muito forte. “Não é qualquer sistema que é viável. Então nós fazemos uma análise de quanto você paga de tarifa, conjugado com os juros do financiamento bancário. E isso dá um resultado financeiro. Aí recomendamos para o cliente se vale a pena ou não fazer. Acontece algumas vezes de mostrarmos que não está na hora de implantar o sistema e que ele pode investir esse dinheiro em outra coisa e ter mais retorno”, explica. O segundo eixo é o do crédito, sendo que a Solbras possui um departamento dentro da empresa que faz essa viabilização das operações financeiras. E, por fim, o terceiro eixo é o da engenharia, com uma tecnologia que a empresa vem desenvolvendo e já domina desde 2013.

SISTEMAS MAIORES

O Brasil fechou o ano de 2017 com aproximadamente 20 mil sistemas de energia solar distribuída conectados à rede. Hoje, os sistemas comerciais são os que predominam no mercado, representando cerca de 43,1% da potência total conectada à rede, seguido pelos residenciais, que representam 39,0% da potência conectada (e 78% do número absoluto de sistemas, já que são, em sua maioria, pequenos sistemas, com 3 kW (quilowatts) em média). Na sequência, estão as indústrias (7,8%), consumidores rurais (5,4%), poder público e serviços públicos (4,7%).

Porém, Fábio Mucin diz que atualmente a Solbras tem como principal foco os projetos um pouco maiores, presentes no agronegócio, indústria e comércio. A maior parte das usinas fotovoltaicas instaladas pela empresa sanjoanense, em 2017, estão ao redor de 80 a 100 kW.

USINA SOLAR — A usina da Copercampos, em Campos Novos (SC), tem capacidade instalada de 1 MW e foi inaugurado pela empresa em janeiro. O custo de instalação foi de 5 milhões e estima-se que o investimento será amortizado em até 8 anos.

E a Solbras acabou migrando para alguns sistemas ainda maiores. Por exemplo, a empresa acabou de finalizar uma usina de 1 MW em uma indústria de vidros no município de Cabedelo, na Paraíba. Isso significa cerca de 300 vezes o tamanho de uma residência padrão e é a maior usina de telhado do país nesta tecnologia. Projeto semelhante, também de 1 MW, foi inaugurado pela empresa em 19 de janeiro na Copercampos, em Campos Novos, Santa Catarina, sendo a maior usina de geração distribuída do sul do Brasil. Para se ter uma ideia, Fábio revela que uma usina dessas pode resultar em uma economia de cerca de R$ 60 mil por mês para a empresa. Se calcular que o custo para instalar o sistema foi de aproximadamente R$ 5 milhões, estima-se que o retorno do investimento virá em 6 a 8 anos. “O retorno também depende do financiamento, dos valores dos juros e da tarifa que ele paga”, aponta o diretor.

Para residências e pequenos comércios, conectados em baixa tensão e que pagam tarifas mais altas, o retorno do investimento pode vir ainda mais rápido. Estima-se que um sistema desses pode ter um payback em cerca de 4 anos. “A economia pode chegar em até 95% da conta de energia. A conta não zera porque é obrigatório o pagamento da taxa de disponibilidade da rede”.

MERCADO PROMISSOR

Apesar de estar cerca de 15 anos atrasado em relação ao mundo quando o assunto é energia solar, Fábio Mucin vê com otimismo o crescimento do mercado, em um país com sérios problemas energéticos.
“Tivemos um marco importante agora no final do ano, quando entraram em operação algumas usinas centralizadas e o Brasil ingressou no que chamamos de Clube do Gigawatt, que são os países que têm instalado mais de 1 GW (gigawatt) de potência em energia solar”, explica.

E isso, diz Fábio, coloca o Brasil entre os 30 maiores países com energia solar do mundo. “O mercado solar no Brasil era completamente incipiente. Antes das usinas centralizadas entrarem em operação, tínhamos cerca de 160 MW instalados em geração distribuída, o que representava 0,1% de participação na matriz energética brasileira, quase nada. Hoje, aproximadamente 0,65% da matriz é em fonte solar. Avançamos, e precisamos avançar mais”. Porém, o cenário do mercado solar é completamente favorável, aponta Fábio. “Temos uma pressão grande sobre os preços das tarifas. Além de um rombo enorme de R$ 65 bilhões no setor elétrico que será pago pelos consumidores, o sistema elétrico brasileiro precisa de investimentos. Isso resulta em aumento de tarifas, e maiores viabilidades econômicas ao se implantarem as usinas solares”, conta.

Projeções da própria Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) apontam uma grande defasagem entre o que consume de energia e o que o país poderá disponibilizar com os projetos que entrarão em operação. Segundo a agência, até 2024 o crescimento da oferta de energia no país seria de 29% e o da demanda de 46%, um gap de 17% antes da crise. No cenário atual este gap será menor, mas ainda existirá.

“Ou seja, o Brasil só não entrou num colapso energético porque entrou em crise econômica. Do ponto de vista do setor elétrico, para que o Brasil volte a crescer 2 a 3% ao ano, será necessário aumentar muito a oferta de energia”, aposta. “A energia solar é uma das melhores alternativas, a fim de reduzir o uso de térmicas, cujo custo de produção aumenta muito a conta de energia e aciona bandeira vermelha.”

Nesse cenário em que a tendência é subir o preço da energia, já bastante cara no país, Fábio acredita que a energia solar vai ter um papel importante. Primeiro, pela economia ao consumidor; segundo, porque a geração é próxima do consumo, não havendo perdas significativas por transmissão; terceiro, por ser uma energia limpa, o que vai ajudar o país a cumprir os acordos internacionais de redução de emissão de gases de efeito estufa, como o Acordo de Paris (COP21).

E os dados do mercado de geração distribuída já apontam para esta realidade. O número de empresas no setor chegou a 2.741 em 2017, um crescimento de 82% em relação ao ano anterior, algo expressivo. “Isso se deve a popularização dos sistemas, as pessoas perceberam que a tecnologia funciona. Em um país em crise econômica, esse setor vem crescendo 300%, 400% ao ano. As pessoas estão buscando alternativas, pois a energia está ficando mais cara”.

ALTERNATIVA AO SETOR PÚBLICO

Fábio Mucin, revela que os sistemas de energia solar são uma excelente alternativa para as prefeituras, que começam a se movimentar nesse sentido.
“Já fizemos reuniões com algumas prefeituras. Não é nosso foco, mas para ajudar fizemos estudos e mostramos como é viável”, diz.

Segundo ele, geralmente as prefeituras têm consumo alto, pois possuem muitos pontos de consumo, em sua maioria conectados em baixa tensão, ou seja, pagam uma tarifa super cara. “É o caso típico para fazer um sistema fotovoltaico. E um nicho muito interessante, apesar de não focarmos nele”, reforça. O diretor de operações ainda esclarece que os créditos gerados por uma usina podem ser utilizados em outros locais. “Na modalidade de autoconsumo remoto, você pode gerar energia em um local, e o excedente de energia gerado compensar o consumo de outro ponto. É possível fazer uma usina só e compensar o consumo de uma escola, de um posto de saúde, de semáforos etc”, explica.

E essa mesma alternativa para o setor público também pode ser aplicada para particulares. Um consumidor pode produzir energia em um local e compensar créditos excedentes em outro local de sua titularidade. Também já são permitidos modelos de condomínios — em que uma usina na propriedade gera créditos para os moradores –, ou cooperativas (em que os créditos são gerados em um local e compensados em outros locais de consumo).


A ENERGIA SOLAR NA MATRIZ ENERGÉTICA DO BRASIL

Hoje, os números relativos à oferta dessa fonte de energia no Brasil são modestos. Poucas empresas instalaram painéis fotovoltaicos, embora milhares de residências utilizem essa energia, que se destina a atender a demandas familiares de água aquecida por períodos limitados.

O país dispõe de condições favoráveis à energia solar, em especial nas Regiões Norte e Nordeste. Nela está a maioria dos 400 empreendimentos de energia solar cadastrados. Só na Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí estão 80% dos empreendimentos, com capacidade de geração de 8,5 mil MW. Para viabilizar a participação das fotovoltaicas, o governo prometeu fazer um leilão não competitivo, em que os preços serão diferentes para cada modalidade de energia. O teto, na energia solar, será de R$ 280 o MWh, considerado adequado pelas empresas.

Em países desenvolvidos, a energia solar ganhou espaço, como na Alemanha, que tem políticas de incentivo à produção de energia renovável: a geração solar de 25 mil MW é subsidiada e os investimentos superam as expectativas. Até 2025, a meta é de que 40% da energia gerada na Alemanha provenha do conjunto de fontes renováveis. No Brasil, a meta é gerar 3,5 mil MW de energia solar até 2023, menos de 2% da capacidade instalada de fontes elétricas.