A menstruação é sinal de saúde e renovação do corpo. Educar-se sobre o assunto
é essencial para a promoção de uma visão positiva e saudável.
POR MAYQUELE LOIOLA MEIRELES
Ao longo de muitos séculos, a menstruação, processo natural e vital do corpo da mulher, é estigmatizada e considerada um tabu. Durante a Idade Média, por exemplo, ela foi erroneamente encarada como prejudicial ao desenvolvimento de plantações e criação de animais, uma teoria apoiada até mesmo por médicos da época que cogitaram classificá-la como uma espécie de doença mensal.
Em conjunto com a perspectiva religiosa que associava a menstruação à impureza e sujeira, inúmeros mitos surgiram em torno da temática. Atualmente, apesar das revoluções culturais e sociais em andamento, que visam quebrar essas barreiras e promover uma abordagem mais aberta e educativa sobre o ciclo menstrual, há quem ainda não tenha uma relação saudável com a própria menstruação ou quem ainda acredite em alguns desses discursos prejudiciais.

Segundo uma pesquisa realizada com 1,5 mil mulheres em 5 países, incluindo o Brasil, pela Sempre Livre em parceria com a Kyra Pesquisa & Consultoria, 54% das mulheres entre 14 e 24 anos não sabiam nada ou tinham poucas informações sobre menstruação quando ela ocorreu pela primeira vez. Adicionalmente, 40% delas afirmaram sentir-se inseguras e pouco atraentes durante o período menstrual, enquanto 39% admitiram pedir um absorvente emprestado como se fosse um segredo para esconder a menstruação. A pesquisa também revelou que 57% das brasileiras se sentem sujas durante a menstruação, contrastando com a média global que é de 40%.
O conjunto de todos esses dados evidenciam não só a falta de informação e o fato de que muitas mulheres ainda não possuem um entendimento completo à respeito do funcionamento de seus próprios corpos, mas confirmam que os mitos históricos estabelecidos lá na antiguidade, desempenham até hoje um papel significativo na perpetuação de ideias negativas sobre o funcionamento do corpo feminino. Como consequência, até mesmo a rotina diária das mulheres é afetada.
AS FASES DO CICLO MENSTRUAL
O período menstrual, com uma média de 28 dias, embora possa variar de mulher para mulher, é um processo cíclico que se inicia no primeiro dia do sangramento. Essencialmente, o ciclo se divide em três principais fases: a fase folicular, que ocorre antes da liberação do óvulo; a fase ovulatória, marcada pela liberação do óvulo maduro pelos ovários; e a fase lútea, que se segue à liberação do óvulo e prepara o corpo para uma possível gravidez. Cada uma delas é influenciada por flutuações hormonais e desempenham um papel crucial no ciclo e no funcionamento reprodutivo feminino.
A fase folicular, dura aproximadamente de 10 a 14 dias. Neste período, a sensação é de disposição e bem-estar. Conforme esclarece a psicóloga especialista em Psicologia Perinatal, Vivian Inácio da Rosa, 46, isso ocorre devido ao aumento do hormônio estradiol. Normalmente, nesse período as mulheres se sentem mais estimuladas, fazem atividades estressantes sem sentir o peso delas, enquanto mantêm um estado de atividade cerebral positiva e um humor mais otimista.
O Dr. Marcos Wengrover Rosa explica com mais detalhes esse processo. “O ciclo menstrual é uma preparação mensal para engravidar, na primeira metade do ciclo ocorre o recrutamento de um folículo dominante que contém no seu interior o óvulo. Também nesse processo predomina a secreção de um hormônio feminino: o estrógeno. A ovulação ou a expulsão do óvulo do folículo (pequeno cisto em torno de 3 cm) ocorre aproximadamente duas semanas após o início do ciclo – eventualmente esse pode ser um processo doloroso, que marca a ovulação”.
Na fase ovulatória, o período fértil, ocorre o aumento da libido, e a mulher pode se sentir mais atraente. “Aqui, o hormônio estradiol “diz” ao organismo para liberar mais testosterona, e é justamente esse um dos hormônios que regulam o desejo sexual. O estradiol pode interagir com outros hormônios para aumentar a libido. É nessa fase que as mulheres podem se sentir ainda mais incríveis. E, também podem perceber um leve aumento da temperatura corporal, cólica no baixo-ventre, inchaço nas mamas, e aumento da oleosidade da pele e surgimento de acnes”, explica a especialista em psicologia perinatal.
Em contrapartida, na fase lútea, também conhecida como TPM (Tensão Pré-Menstrual), os sintomas variados incluem tristeza, irritabilidade, fadiga e dores de cabeça. “Nesta fase inicia-se a secreção do hormônio progesterona, e à medida que seus níveis aumentam, a mulher pode começar a se sentir mais mal-humorada. Isso acontece porque a progesterona ajuda o corpo a produzir cortisol, um hormônio que em quantidade elevada, leva a um quadro de estresse. Os sintomas mais conhecidos dessa fase são: Tristeza, mudanças repentinas de humor, crise de choro, irritabilidade, pouco ou muito sono, dificuldade de concentração, raciocínio lento, desinteresse em atividades cotidianas, cansaço físico e mental, falta de energia, dores de cabeça, queda de pressão, enjoos e inchaço”, informa Vivian Rosa.
Esta, geralmente, é a fase mais conhecida e temida dentre as mulheres. É válido lembrar que ainda assim, ela ocorre de maneira natural como as outras fases, não é uma doença, e portanto, não é uma vilã. “Apesar de gerar muitos desconfortos. A intolerância durante este período pode servir de aprendizado, fazendo com que as mulheres percebam o que as deixam insatisfeitas. Utilizando destes desconfortos para refletir sobre as mudanças que desejam em suas vidas, e como se sentem diante de determinadas experiências” aconselha, a psicóloga.
Ainda é válido salientar, em sinal de alerta a todas as mulheres, que a tensão pré-menstrual (TPM), dependo do grau de intensidade dos sintomas físicos e emocionais, pode ser classificada como transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). Segundo a psicóloga Vivian Inácio Rosa, em resumo, a principal semelhança entre a tensão pré-menstrual (TPM) e o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) é o fato de ambos ocorrerem no mesmo período do ciclo menstrual. No entanto, as diferenças residem na intensidade e na natureza dos sintomas: o TDPM apresenta sintomas mais intensos e predominantementes de natureza psíquica, ao contrário da TPM, que conta com sintomas mais físicos.
Vivan ainda explica que o diagnóstico do TDPM é estabelecido por meio de anamnese, onde a mulher relata seus sintomas significativos, os quais devem ser severos e persistentes ao longo da maioria dos ciclos menstruais no último ano, impactando negativamente sua qualidade de vida.Os sintomas, que abrangem aspectos físicos e psíquicos podem incluir: inchaço, dor nas mamas, aumento do volume abdominal, dor de cabeça, cansaço, humor deprimido, ansiedade, irritabilidade, sensação de nervos à flor da pele e até ideação suicida.
É importante estar atento ao próprio corpo para conseguir distinguir e identificar essas diferenças entre as duas condições, e em todo caso, buscar ajuda profissional. No caso da TDPM, a psicóloga reitera: “Existe tratamento com foco no alívio dos sintomas. O primeiro passo é consultar um médico. Só ele pode fazer uma avaliação adequada e indicar o melhor tratamento para cada caso. Nunca se automedique.”
Apesar de suas peculiaridades, por vezes não tão confortáveis, reconciliar-se com o próprio ciclo é reconciliar-se com a própria vida, inerente à natureza.

MENSTRUAÇÃO CONFORTÁVEL E SAUDÁVEL: Um direito de todAs
Quando se fala em menstruação, fale-se em um momento significativo, por isso, torna-se indispensável considerar as opções de produtos para conter o fluxo menstrual. Afinal, eles contribuem para a segurança e conforto das mulheres e pessoas que menstruam. Dando um pulo histórico ao passado, é possível constatar que não havia disponível a variedade de opções de métodos para conter o fluxo menstrual como hoje em dia. No passado, eram utilizados desde retalhos de tecidos à algodão ou qualquer outro material disponível no momento para estancar o sangue. Opções nada higiênicas e confortáveis, que perduraram até o surgimento dos absorventes.
Foi somente no final do século XIX e início do século XX que surgiram as primeiras versões desses produtos. Mas a verdadeira revolução aconteceu em 1888, quando a empresa Johnson & Johnson lançou o primeiro absorvente comercial descartável chamado “Lister’s Towels”, produto feito de algodão com uma capa de celulose para absorção.
Hoje, o absorvente descartável é mundialmente conhecido e utilizado. E, por mais que represente uma solução muito importante para o processo de conforto e bem estar, não é mais a única opção de absorção disponível, nem a mais confortável, econômica, saudável e ecológica. A partir do ponto de vista econômico, segundo um estudo realizado em 2021 pelo Fluxo Sem Tabu, uma mulher tem cerca de 450 ciclos menstruais durante a vida, e necessita, de em média, 20 absorventes por ciclo. Estima-se, portanto, que sejam usados 10 mil absorventes durante toda a sua idade fértil. Se considerarmos um custo médio de sessenta centavos por absorvente, chegamos ao valor de 6 mil reais. E, ao relacionar esses valores com a realidade da extrema pobreza no Brasil, torna-se evidente que nem todas as mulheres e famílias podem arcar com os custos dos absorventes. É a partir dessa realidade que surge a problemática da pobreza menstrual.
Segundo Graziela Pio, 44 anos, empresária e proprietária de três unidades da marca Hope, conhecida por suas lingeries e linha de calcinhas absorventes, a lingerie é a peça que mantém contato direto com o corpo da mulher, por este motivo, é essencial que proporcione conforto.
No caso das calcinhas absorventes da Hope, elas são confeccionadas com forro de algodão, garantem comodidade ao tocar na pele, e possuem de 5 a 6 camadas com tratamentos anti-odor e antimicrobianos. Ademais, o tecido utilizado é biodegradável, degrada-se em aterros sanitários após 5 anos, uma significativa redução de tempo em comparação com o tecido comum, que leva 50 anos para se decompor.
Graziela ainda ressalta o impacto ambiental das calcinhas sustentáveis da Hope, cuja durabilidade é de 2 anos de uso, ou seja, evita o descarte de muitos absorventes descartáveis ao longo desse período. “Olha o bem que faz para o meio ambiente! “, declara a empresária da marca, fundada há 52 anos, e cujo propósito é transformar a vida das mulheres proporcionando extremo conforto por meio de suas peças. Independentemente do método escolhido, é crucial que este se adapte às necessidades individuais de cada mulher.