A nova praça deveria ocupar o cemitério da cidade, que iria se transferir para local mais distante. A maior parte da nova praça foi construída sobre o antigo cemitério e o restante seria construído no terreno de Dona Firmina Castorina de Andrade Tavares, a ‘Nhá Mina’, viúva de Misael Tavares Coimbra.
POR FRANCISCO ARTEN

Manoel Tavares e seu sobrinho José Tavares foram personagens importantes na época da fundação da cidade. Manoel era riquíssimo: “banqueiro”. Construiu uma bela casa, onde hoje está o Theatro Municipal.

O quintal ocupava grande parte da atual Praça Joaquim José. Era amigo pessoal do Monsenhor Ramalho, o fundador da cidade, que se hospedava ali quando vinha para a região e, dali, avistando as montanhas da Serra da Mantiqueira, é que decidiu construir a igreja de São João Batista, a Igreja Catedral.

Decidiu também dar o nome de São João da Boa Vista ao lugarejo, desenhou o traçado das primeiras ruas e distribuiu os terrenos do Centro para os amigos, vindos de Mogi Mirim, construírem suas casas e darem início a uma nova cidade. Ramalho havia praticamente sido expulso de Mogi Mirim e seu plano era construir uma cidade tão poderosa como aquela que havia deixado.

Já a casa de José Tavares ficava onde hoje está localizado o prédio do antigo Centro Recreativo Sanjoanense. Casa que recebia os principais líderes da cidade que nascia para confabulações políticas. O banqueiro era um homem ocupado, viajava muito para Santos e São Paulo, de modo que os assuntos da cidade ficavam a cargo do seu sobrinho José Tavares.

A ligação entre os dois parentes era muito forte. Manoel tinha três filhas; José cinco filhos e uma filha. Pois as filhas de Manoel acabaram se casando com três filhos de José, formando uma só família. José foi o primeiro presidente da Câmara de São João, cargo que exerceu por muitos anos, até sua morte. Administrou a cidade por muitos anos. Foi também o primeiro Juiz de Paz e Curador de órfãos, a quem cabia zelar e cuidar das crianças sem pais.

Vista do Grupo Escolar Joaquim José, a partir da recém construída praça. A escola foi criada em 1896 e, em 1902, foi instalada – por autoria de José van Humbeeck – no local que permanece até hoje. Foi seu primeiro diretor o professor Gabriel Ortiz.

A paixão pela política e o ânimo para trabalhar pelo povoado parece ter contagiado toda a família. Todos os filhos: Jacó, José, Antônio, João e Misael, o capitão Teco, foram vereadores na época. A filha, Francisca Helena, também tinha espírito público. Ela e o marido doaram dois alqueires de suas terras para fundar um novo bairro: o São Lázaro.

Bem, tudo isso ocorreu na época do Império, período em que a família Tavares manteve a enorme influência sobre a cidade. Veio a República, os Tavares já haviam deixado a vida pública quando, em 15 de janeiro de 1902, a Câmara Municipal aprovou um projeto de lei que dava origem a atual Praça Joaquim José.

A nova praça deveria ocupar o cemitério da cidade, que iria se transferir para local mais distante. A maior parte da nova praça foi construída sobre o antigo cemitério e o restante seria construído no terreno de Dona Firmina Castorina de Andrade Tavares, a ‘Nhá Mina’, viúva de Misael Tavares Coimbra, filha, portanto, de Manoel e nora de José.

O terreno era necessário para expansão e alinhamento da Praça. Como já foi dito, a casa do banqueiro Manoel Tavares ficava onde hoje está o Theatro Municipal e é descrita assim pelo historiador José Osório de Oliveira Azevedo: “Era uma mansão, com muita largueza e muitas acomodações”. Anos mais tarde, a casa foi transformada em colégio interno.

Em seguida, abrigou a primeira Santa Casa de São João, que foi demolido para dar lugar ao Theatro. O quintal era imenso e fazia divisa com o antigo cemitério, ocupando, portanto, grande parte da atual Praça Joaquim José. Porém Dona Firmina, a viúva de Mizael, filha de Manoel, não ficou nada contente com a desapropriação do seu terreno.

Certamente tinha implicância com a Câmara de vereadores de São João, que era republicana. Provavelmente, naquela Câmara, estavam adversários de seu falecido marido, cunhados e sogro. Firmina resolve medir força com os vereadores e nega vender seu terreno para construção da Praça Joaquim José. Inicia-se, então, um longo processo e debates calorosos na Câmara Municipal. Os vereadores estavam divididos entre desapropriar ou não o quintal da casa de Dona Firmina.

O vereador Dr. Julio de Freitas foi um dos principais defensores da desapropriação: “é de absoluta necessidade para o embelezamento da cidade. Se a Câmara for esperar oportunidade, nunca realizará esse melhoramento”. O povo participou da discussão, encaminhando à Câmara um abaixo-assinado pedindo a desapropriação.

O impasse só foi resolvido no dia 5 de maio de 1904, quando, em sessão extraordinária, os vereadores aprovaram a desapropriação. Aprovação apertada, três votos apenas e uma abstenção. Definitivamente, os Tavares já não tinham mais absoluta influência na cidade. Assim, em meio à polêmica, nascia a Praça Joaquim José, a principal praça de São João da Boa Vista.