Ana Cecília Mançano Navarro e Carolina Navarro Frigo Januário
Por Clovis Vieira
Fotos: Leonardo Beraldo / Cromalux

Uma das características do empreendedor de sucesso é enxergar oportunidades (e aproveitá-las) onde pessoas comuns veem apenas o trivial, sem perceber ali uma fonte de inovação, de trabalho e de lucro. Então, é preciso ficar atento ao que ocorre a sua volta? Sim!

“Até há pouco tempo, o jaleco era apenas um uniforme, uma vestimenta que o pessoal da área de saúde, entre outras, usava sobre suas roupas, para se proteger”, diz Ana Carolina Navarro Frigo Januário, uma das sócias proprietárias da marca Dra. Cherie. Ela e a irmã, Ana Cecília Mançano Navarro, criaram o conceito jaleco-fashion, através desta marca, há cerca de dois anos e meio atrás. Foi a partir de um insight que essa peça de roupa tornou-se um acessório de moda, que muitos profissionais desejam usar no seu dia a dia. Em grande parte, porque os produtos Dra. Cherie escapam do tradicional branco imaculado e abraçam as cores, as estampas e o corte que valorizam a feminilidade de quem os usa.

JALECO-FASHION

Atuando como odonto-pediatra por dois anos, Ana Cecília, apaixonada por moda, um dia decidiu que queria usar um jaleco diferente dos tradicionais em seu trabalho. Procurou opções no mercado, mas não achou nada diferenciado. Assim, percebeu que havia uma grande oportunidade de mercado, e decidiu, junto com a irmã, Ana Carolina, abrir uma empresa. As amigas dentistas logo ficaram encantadas com os jalecos e, assim, as vendas começaram.

Quando chegou ao seu local de trabalho com a ousada novidade, as colegas se encantaram com o que viram. E desejaram ter um igual.

“Diante dessa surpresa, nós duas resolvemos nos tornar sócias para desenvolver uma empresa onde criar e produzir jalecos diferenciados dos comuns”, lembra Ana Carolina, contando como nasceu a Dra. Cherie.

De acordo com ela, desde o início alguns conceitos já estavam presentes na trilha que a nova empresa seguiria: produtos colecionáveis, poder ousar respeitando os parâmetros da profissão, abrir a possibilidade de uma pessoa variar jalecos ao longo da semana e, principalmente, instalar a ideia do jaleco-fashion. Com essas considerações em pauta, os limites foram ultrapassados.

Com o país tomando consciência de uma crise econômica que já existia, mas que se ocultava por detrás de discursos otimistas de alguns homens públicos, o ano de 2015 começou a exigir medidas drásticas de sobrevivência financeira por parte de todos os brasileiros. Daí, optar pela utilização da internet para comercializar esses produtos facilitou todo o processo para as irmãs sócias.

E-COMMERCE

Hoje, com sites nacional e internacional servindo de vitrine virtual à Dra. Cherie, a equipe comemora a marca dos 200 mil seguidores no Instagram da empresa, que exibe fotos, textos e novidades da marca.

“A nossa, é uma empresa virtual, que opera inteiramente via internet, não temos lojas físicas, ainda”, explica Ana Carolina. Ana Cecília é cautelosa nessa história de internet. “Ao mesmo tempo em que essa ‘vida virtual’ pode elevar às alturas seu produto e seu trabalho, ela pode derrubar isso tudo”, preocupa-se. Aponta que é preciso saber lidar bem com essa infinita plataforma de comunicação, porque se trata de um mundo instável, impreciso, muito maleável e surpreendente. Porém, transformar esse e-commerce em loja física é um projeto que vem sendo acalentado pela família. Basta que o país entre novamente nos trilhos para que essa ideia se concretize, afirmam. “Nós acreditamos muito na interação do on-line com o físico; temos ouvido grandes empresas já praticando isso, chamado de omnichannel”.

“Nossa escolha de local para uma loja física recairá sobre uma grande cidade, como São Paulo, por exemplo”, revela. A Dra. Cherie conta com revendedoras por todo o Brasil, além de grandes varejistas que adquirem seus produtos para venda direta ao consumidor. “Mesmo com esses representantes, a maioria dos contatos com eles é sempre feita pela internet”, garante a jovem empresária. Como se vê, graças à internet, a loja virtual ultrapassou as fronteiras desta região e do país!

Hoje, existe uma empresa aberta nos Estados Unidos, com site em inglês. Naquele país, inicialmente, são as criações brasileiras que são comercializadas.

“Mas criações exclusivas já estão sendo preparadas, porque há uma diferença no consumidor norte-americano e muita coisa será adaptada ao gosto dele”, indica. Uma das descobertas é que jalecos mais curtos farão mais sucesso por lá! Outra conquista da empresa é que as irmãs vêm participando como palestrantes em inúmeros congressos empresariais pelo Brasil. O Chile, recentemente, marcou sua primeira investida em congressos latino-americanos: “um momento muito especial para nós”, comemora Ana Carolina. Sem falar no lançamento de uma nova coleção criada recentemente, que será conhecida num evento em Salvador, na Bahia.

IRMÃS NOS NEGÓCIOS – Ana Cecília Mançano Navarro (a esquerda) e Carolina Navarro Frigo Januário criaram o conceito de jaleco-fashion e, a partir desse insight, a peça de roupa tornou-se um acessório de moda.

MULHER

No início do ano, ambas apresentaram o seu case de sucesso na primeira edição do evento Painel da Mulher Empreendedora.

“Foi um momento no qual eu me emocionei muito”, lembra Carolina. Ela e o marido estavam retornando para São João da Boa Vista, depois de residirem por 12 anos na capital paulista, e realizando o sonho da volta ao lar. “Assim que eu vi meus pais na plateia do Painel, comecei a chorar de emoção. E olhava aquelas mulheres me ouvindo, ouvindo a nossa história… foi muito emocionante, mesmo”. Ela diz que sempre destaca, por onde quer que vá, que é uma das sócias de uma empresa 100% sanjoanense, como forma de expressar a paixão de ambas por sua cidade natal. E que atua num negócio que surgiu a partir de uma ideia nascida aqui, que está baseada numa grande sala de um prédio da Avenida Dona Gertrudes, no centro da cidade.

Ana Cecília classifica esses encontros empresariais como “muito importantes para a Dra. Cherie”, porque o comércio online traz certa frieza, um distanciamento da clientela. “Como nós ainda não temos uma loja física, precisamos desse contato para ouvir de nossas clientes o que elas esperam de nós; e passar a elas o nosso carinho, a nossa essência… isso é muito importante”. Outro desafio que vem sendo vencido no trabalho diário é a convivência em sociedade, onde um membro da própria família é o outro lado da história. “Minha irmã, Ana Cecília, é a empreendedora da empresa, uma característica que sempre existiu em sua personalidade, que eu me lembre, desde criança. Foi ela quem atraiu a família para este negócio”. E classifica a si mesma como aquela parte mais criativa (“eu sempre tive boas ideias”), que deseja inovar em cada atitude, em cada toque que possa tornar o trivial em inovador: “Eu sempre procurei atuar fora da caixa”, afirma sorrindo. Para dizer que nunca se conforma com o que é banal. Ana Cecília concorda: “Sim, é sempre ela quem ‘bola’ os eventos, as ações com funcionários, as ações sociais e, mesmo, o marketing da empresa”. E cita o cunhado, Leandro, como o responsável pela parte administrativa e financeira do negócio, a quem ambas recorrem no momento das grandes decisões. “Nós contamos com ótimos funcionários e temos mais tempo livre para as criações, mas a base familiar continua forte e vai continuar assim”.Carolina afirma que, neste caso da Dra. Cherie, muitos talentos foram reunidos até chegarem ao resultado atual.

“Minha mãe, por exemplo, é o pilar disso tudo. Desde o começo era ela quem fazia todo o trabalho — pregava as coroas nos jalecos, passava as peças prontas, fazia as entregas — porque nós não tínhamos funcionários naquela época”. Jalecos, dólmãs, scrubs, toucas, blusas, camisas, jalecos infantis e uma exclusiva Linha Atelier Oral Kids (em homenagem à profissão de Ana Cecília) fazem parte da coleção de produtos que são comercializados em todo o Brasil e até fora dele. Mas, não haverá um dia em que a criatividade vai se esgotar? “Ah, a moda sempre se reinventa”, garante Ana Cecília.

UM CONSELHO

Quando esta jovem empresária viaja a negócios, ou para participar de congressos, vê inúmeras mulheres buscando o sucesso em seus empreendimentos. Ela sabe que nem todas alcançarão o objetivo a que se propuseram, motivadas por um sem número de obstáculos. Entre eles, a falta de autoconfiança e o medo da decisão consciente para o risco calculado. Neste momento, ela olha para os seus próprios desafios vencidos e aconselha:

“Não importa como uma nova empresária vai iniciar um novo negócio — o importante é começar! Muitas pessoas talentosas deixam boas ideias escaparem e veem, em seguida, a concorrência realizando aquilo que foi antes pensado por elas”. Quando questionada se a atual crise econômica brasileira interferiu de alguma forma na concretização da empresa, Carolina lembra que a Dra. Cherie nasceu durante a crise:

“Nós nunca soubemos o que é viver fora da crise. Assim, esperamos que, quando ela passar, tudo possa ser muito melhor!”. Ela ensina que para manter o negócio funcionando e crescendo não são necessários sacrifícios pessoais. É preciso, sim, saber equilibrar vida pessoal, família e empresa, mesmo com trabalho duro sendo desenvolvido todos os dias. “É isso o que buscamos, mas a gente trabalha muito, sim”. Ana Cecília, por sua vez, se diverte contando que a sua vida pessoal “diminuiu” em função da Dra. Cherie, devido à curva ascendente do seu crescimento. Ela confirma que é a parte da sociedade que vê oportunidades de empreendedorismo nas relações com a moda, com os parceiros. “Eu acho que a Odontologia surgiu em minha vida para que eu entrasse de vez no mundo da moda. Foram dois anos de prática, sendo que logo no primeiro ano, a Dra. Cherie chegou e eu tive que optar por uma delas”, finaliza.